Folha de S.Paulo

Globo e TV do México pagaram propina por Copas, afirma delator

Empresas teriam pago, junto com companhia argentina, US$ 15 milhões em propinas a cartola

- SILAS MARTÍ

Burzaco disse ter se reunido com ex-executivo do canal brasileiro durante a Copa-2014, no Rio

Alejandro Burzaco, testemunha de acusação no julgamento do ex-presidente da CBFJoséMar­iaMarinnos­EUA, voltou a citar o Grupo Globo como autor de pagamentos de propina para garantir a compra de direitos de transmissã­o de eventos esportivos. A empresa nega (veja ao lado).

Nesta quarta (15), em seu segundo dia de depoimento na corte do Brooklyn, em Nova York, o empresário disse que a TV Globo, a mexicana Televisa e sua empresa de marketing esportivo, Torneos y Competenci­as, teriam pago juntas US$ 15 milhões em propina a Julio Humberto Grondona, ex-chefe do futebol argentino, pelos direitos de transmissã­o da Copa do Mundo de 2026 e 2030.

O valor, que garantia direitos de TV, rádio e internet para os eventos esportivos, teria sido depositado no banco Julius Bär, sediado na Suíça.

Essa conta era controlada pela T&T, empresa criada pelo grupo de Burzaco para fazer pagamentos ilícitos. De acordo com ele, os valores pagos pelos grupos de mídia pelos direitos de transmissã­o estavam abaixo do valor de mercado para que pudessem ser inflados com propinas.

Burzaro, que fez acordo de cooperação com as autoridade­s americanas e se declarou culpado das acusações de envolvimen­to no escândalo de corrupção da Fifa, deu informaçõe­s sobre suposto encontro em Londres, em 2013, onde o o pagamento das propinas teria sido acertado.

Também na capital britânica, Burzaco disse ter se en- contrado com Marin, Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF, e executivos da americana Fox Sports, que queriam “ampliar suas operações no Brasil e ter laços mais estreitos com o futebol”.

Na ocasião, Marin e Del Nero teriam reclamado do atraso em seus pagamentos de propina relativos à Libertador­es e à Copa Sul-Americana. Eles discutiram, disse o delator, pagamentos pendentes de US$ 2 milhões e US$ 3 milhões, relacionad­os a outras negociaçõe­s de direitos de transmissã­o de campeonato­s.

Numa série de e-mails mostrados pelos promotores americanos entre a testemunha e o chefe administra­tivo de sua empresa, Eladio Rodríguez, Burzaco discute os detalhes do pagamento, que teria que ser realizado às pressas dada a “irritação e insatisfaç­ão” dos cartolas brasileiro­s, identifica­dos juntos como “brasilero” em alguns dos e-mails.

Marin e Del Nero, depois do encontro em Londres, estavam, segundo as mensagens, nos EUA e exigiam receber o pagamento no país, operação que o empresário considerav­a arriscada, mas que concordou em fazer. CRISE DE CHORO Burzaco chorou no início de seu segundo dia de depoimento­s, interrompe­ndo o julgamento. Isso aconteceu menos de 24 horas depois do suicídio de um advogado argentino citado por ele como um dos que receberam propina no esquema –Jorge Delhon se jogou na frente de um trem em Buenos Aires.

Depois de sua crise de choro, Burzaco foi reconduzid­o ao tribunal. Ele então deu mais informaçõe­s de sua suposta ligação com a Globo.

Segundo o delator, em um café da manhã no Copacabana Palace, no Rio, durante a disputa da Copa do Mundo de 2014, ele teria se encontrado com Marcelo Campos Pin- to, que então era o executivo responsáve­l pela compra dos direitos de transmissõ­es de eventos esportivos para a emissora brasileira.

Segundo Burzaco, eles discutiram a intenção da Globo de estender o pagamento de propinas para a Conmebol via T&T em troca de direitos da Copa Libertador­es e da Copa Sul-Americana.

“Não queríamos que essa estrutura mudasse”, disse a testemunha. Ele afirmou que o encontro com o executivo da Globo tinha como objetivo garantir a continuida­de dos pagamentos do canal, já que existia pressão de outros grupos, como a Fox.

Burzaco detalhou valores e datas da alegada propina a cartolas da Conmebol. Ele estimou ter gasto ao menos US$ 66 milhões para ter contratos da Copa América.

Entre os destinatár­ios desses pagamentos estavam, segundo ele, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.

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