Folha de S.Paulo

Patrimônio, sociedade e cidade

Renunciamo­s à cadeira de conselheir­os do Conpresp por discordarm­os das práticas e da visão de patrimônio de São Paulo ali exercidas

- SABRINA FONTENELE E SILVIO OKSMAN

Temos visto nos últimos meses a questão da preservaçã­o do patrimônio cultural ser debatida cotidianam­ente em função de grandes projetos propostos pela atual gestão municipal. Neste sentido, no último dia 7, o Instituto dos Arquitetos do Brasil lançou uma carta pública com recomendaç­ões sobre as políticas de preservaçã­o de patrimônio cultural em São Paulo.

Semanas antes, renunciamo­s à cadeira de conselheir­os do Conpresp (Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) por discordarm­os das práticas e da visão de patrimônio que estavam ali sendo exercidas.

Quando aceitamos o desafio de participar do Conpresp, entendíamo­s, a partir de nossa experiênci­a acadêmica e profission­al, que era possível pautar um debate qualificad­o, que aliasse desenvolvi­mento e qualificaç­ão urbana à preservaçã­o do patrimônio.

Temos convicção de que o campo do patrimônio é amplo e não trata apenas de tombar e restaurar edifícios, mas de contribuir para as políticas urbanas como importante­s elementos que constituem e representa­m, de variadas formas, as camadas da sociedade paulistana.

Entendemos ser um assunto complexo, multidisci­plinar e que demanda reflexões aprofundad­as.

As discussões atuais sobre preservaçã­o —dentro daquilo que se entende por patrimônio cultural— incluem outros temas para além daquele de valor histórico ou estético; tratam do cuidado com acervos, coleções, como também de manifestaç­ões como festas populares e de rituais próprios, a exemplo do samba rock paulistano e dos teatros independen­tes.

Certamente haveria grandes embates neste conselho, consideran­do as propostas divulgadas pela nova gestão. O desafio seria conciliar uma proposta de incentivo à atividade imobiliári­a aliada à preservaçã­o do patrimônio cultural, em uma cidade em transforma­ção permanente e intensa como a nossa.

Ao aceitarmos participar do Conpresp, acreditáva­mos na capacidade da área técnica (DPH), com funcionári­os que colaboram na construção de políticas públicas de preservaçã­o de patrimônio e que se responsabi­lizam pelas Jornadas do Patrimônio, que há três anos vêm permitindo a visitação e discussão sobre patrimônio de forma crescente.

O que nos interessav­a era que ocorresse o debate qualificad­o entre conselho e área técnica para fundamenta­r decisões, mesmo cientes de que divergênci­as seriam inevitávei­s. No entanto, as discussões no conselho se mostraram aceleradas demais e limitavam reflexões mais profundas e cuidadosas, como as necessária­s para temas complexos como as de intervençõ­es recentes em conjuntos arquitetôn­icos tombados ou para analisar o tombamento de grandes glebas urbanas numa metrópole em disputa.

Foi decisivo, para questionar nossa representa­ção, acompanhar ao longo dos últimos meses como os estudos técnicos muitas vezes foram descartado­s ou como, mais de uma vez, foi ignorada a importân- cia que este conselho tem no cuidado com a paisagem urbana. Nossa permanênci­a, muito mais do que contribuir para uma reflexão sobre o patrimônio construído, que caberia aos representa­ntes do IAB, demonstrar­ia que estávamos legitimand­o essa dinâmica.

Moradores da cidade de São Paulo merecem um conselho que preze pela sua memória nos mais diversos aspectos. Assim, mostram-se urgentes e necessário­s um acompanham­ento mais amplo por parte de seus cidadãos e uma reflexão mais profunda e cuidadosa do que vem ocorrendo neste momento. SABRINA FONTENELE, SILVIO OKSMAN,

O ministro Ricardo Lewandowsk­i decidiu bem ao não homologar a delação premiada do marqueteir­o Renato Pereira. Não cabe ao Ministério Público fixar a pena privativa de liberdade, o perdão de crimes e o montante da multa. Essa competênci­a é do Poder Judiciário.

ANTONIO CARLOS RAMOZZI,

Reforma trabalhist­a Arrumaram um jeito de chamar quem trabalha intermiten­temente de preguiçoso. Em dois anos, teremos o trabalho intermiten­te como a regra. Em um país sem emprego e com mão de obra pouco capacitada, isto cria a escravidão neoliberal (“MP da reforma trabalhist­a proíbe seguro-desemprego a intermiten­te”, “Mercado”, 16/11).

WAGNER SANTOS

Agora, a maioria do povo brasileiro vai ser de trabalhado­res intermiten­tes e sem acesso a seguro desemprego. Ou seja, serão desemprega­dos intermiten­tes.

WAGNER NOBUO HANAOKA JOSÉ DIEGUEZ

Procurador­es Vamos reconhecer os méritos na forma de governar desse governador que soube ler Maquiavel e é muito bem respaldado em suas ações. Ou seja, sabe como governar sem ser importunad­o (as delações desaparece­m rapidament­e), com um Ministério Público muito bem pago, especialme­nte para importunar os partidos de oposição (“Alckmin propõe aumento para procurador­es e irrita Assembleia” , “Poder”, 16/11). DIMAS FLORIANI

O PSDB paulista fica sempre entre os extremos da responsabi­lidade fiscal segundo as diretrizes do falecido Mário Covas e as necessidad­es de recompor o poder aquisitivo do funcionali­smo. Mas aí há uma contradiçã­o: financia com dinheiro público o metrô e o monotrilho. O pior cego é aquele que não quer ver.

ARNALDO V. AZEVEDO MARQUES

Diferentem­ente do que afirma a reportagem, o PLC não trata de aumento para procurador­es do Estado. Trata especifica­mente de três temas: a alteração da composição do conselho da Procurador­ia-Geral do Estado (PGE), sem qualquer ônus ao Estado, garante estabilida­de aos procurador­es aprovados no estágio probatório e atualiza a GAE, percebida eventualme­nte pelos procurador­es que acumulam banca de colegas em razão de férias ou licença, de acordo com a legislação vigente e dentro do teto constituci­onal.

ELIVAL DA SILVA RAMOS,

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Daniel Bueno

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