Folha de S.Paulo

Terrorismo e o narcotráfi­co”, além de ter “aumentado o tamanho do Estado, quando eu defendo um Estado austero”.

- SYLVIA COLOMBO

“Muitas coisas do período Pinochet foram boas, como as medidas econômicas, a saúde e a educação. Eu proponho resgatar o que houve de positivo naquele tempo”, diz o candidato presidenci­al José Antonio Kast, 51, que tem 6% da preferênci­a do eleitorado para o pleito do próximo domingo (19), segundo pesquisas de opinião.

Em entrevista à Folha ,em Santiago, Kast diz reconhecer que houve abusos de direitos humanos durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-90), em que mais de 3.000 pessoas morreram, mas que se trata de um assunto para o Judiciário.

“A Justiça chilena, nos últimos tempos, se deixou levar muito por um espírito de vingança. Defendo que haja um indulto ou uma progressão de pena (passando à prisão domiciliar) para repressore­s que estejam na cadeia, mas já tenham idade avançada, doenças graves ou terminais.”

Kast tem formação como advogado e pertencia à UDI (União Democrata Independen­te, de direita), da qual saiu para concorrer de forma independen­te, evitando assim disputar a primária com o agora favorito no pleito, Sebastián Piñera.

O candidato diz que, caso seja eleito, uma de suas primeiras medidas será pedir a revogação da Lei do Aborto, que permite o recurso a mulheres que foram vítimas de estupro, cuja vida esteja em risco ou em casos de má-formação do feto. Antes dela, o Chile era dos poucos países que proibiam o aborto em qualquer circunstân­cia.

“Defendo valores, princípios, e um dos principais é o da defesa da vida”, disse. Católico, Kast tem nove filhos.

O candidato tece críticas à primeira gestão do centro-direitista Sebastián Piñera (2010-14), que para ele não atuou “com suficiente energia contra a delinquênc­ia, o MENOS GASTOS SOCIAIS Seu plano de governo prevê cortes nos gastos sociais, redução do funcionali­smo público, fim da gratuidade universitá­ria —durante a gestão Bachelet, houve a implementa­ção da gratuidade para 60% dos estudantes— e uma reforma da Previdênci­a.

“As aposentado­rias precisam ser mais flexíveis. A expectativ­a de vida do chileno está entre as maiores da América Latina, por volta dos 80 anos. Se temos cidadãos se aposentand­o entre os 60 e os 65, o Estado tem de cuidar deles por 20 anos”, explica.

Sua proposta é que a aposentado­ria seja construída a partir de aportes dos próprios cidadãos, “e o Estado apenas complement­aria no caso das famílias mais carentes”.

Quanto à violência no sul do país, que vem crescendo devido à insurgênci­a de grupos extremista­s mapuche que reivindica­m sua soberania sobre território­s da Araucania, Kast diz que é preciso usar mais o Exército e a Lei Antiterror­ista —que permite prisões preventiva­s e contempla condenaçõe­s mais duras.

“Minha concepção de terrorismo não está ligada diretament­e à etnia mapuche. O terrorismo não tem etnia, o terrorismo é coisa de covardes. Se, no caso de nosso país, delitos graves como incêndios e assassinat­os estão ocorrendo por conta da reivindica­ção violenta de alguns grupos mapuche, defendo uma linha mais dura na abordagem desse problema.”

Kast praticamen­te não tem chances de ir ao segundo turno, mas seus votos são cobiçados por Sebastián Piñera, que tem cerca de 45% das intenções de voto e que, se não alcançar 50% mais um, disputará um segundo turno, provavelme­nte contra o candidato de centro-esquerda Alejandro Guillier.

“Se houver um segundo turno, Piñera provavelme­nte irá deslocar seu discurso para a direita, porque terá de conquistar esse eleitor mais extremo que votará em Kast”, diz o cientista político Fernando García Naddaf.

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