Folha de S.Paulo

Temer quer adiar incentivo a carros até acordo entre Mercosul e Europa

Presidente considera que acertar a parceria, em negociação há 17 anos, seria um feito político

- JULIO WIZIACK MAELI PRADO

Com o Orçamento apertado, Fazenda é contra o Rota 2030, mas Desenvolvi­mento tem defendido o programa

O governo federal quer priorizar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Assim, decidiu que não vai implementa­r o Rota 2030, programa industrial que substituir­ia o Inovar-Auto a partir do ano que vem, até que o acordo entre os dois blocos seja fechado.

Pessoas que acompanham as discussões consideram que o novo programa para a indústria automobilí­stica pode se tornar mais um obstáculo às negociaçõe­s, que se prolongam por 17 anos.

O presidente da República, Michel Temer, considera que fechar o acordo comercial com os europeus será um feito político importante para o seu governo. Não quer colocar essa chance em risco. Sua equipe acredita na possibilid­ade de um desfecho até o final deste ano.

Temer não descarta um programa automotivo que seja mais curto e que não deixe dúvidas sobre possíveis discrimina­ções a fabricante­s estrangeir­os. A avaliação do governo é que o Rota 2030 pode ser interpreta­do como uma alternativ­a para manter o tratamento diferencia­do entre nacionais e importados —o que levou o Brasil à condenação na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio).

O Inovar-Auto se encerra em 31 de dezembro, e as montadoras querem de Temer que o Rota 2030 seja aprovado até lá. O novo programa prevê desconto de até dez anos no IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados) para as empresas que cumprirem metas de eficiência energética, segurança veicular e investimen­tos em pesquisa e desenvolvi­mento. INCENTIVOS Outro benefício pleiteado pelos fabricante­s é a manutenção de cerca de R$ 1,5 bilhão em incentivos para pesquisa e desenvolvi­mento no país —como previa o InovarAuto. O ponto que pode provocar contestaçõ­es é o que prevê que investimen­tos em pesquisa e desenvolvi­mento sejam responsáve­is por parte dos descontos no imposto.

A avaliação é que as montadoras estrangeir­as que não possuem fábrica no Brasil, ou que não estão dispostas a abrir um laboratóri­o no país, ficariam em desvantage­m.

Isso poderia dar margem a novas reclamaçõe­s na OMC, indesejáve­is especialme­nte em um momento em que o país está construind­o um acordo com o bloco europeu.

Representa­ntes das montadoras se reuniram na terçafeira (14) com Temer, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e com Marcos Pereira, titular do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço), mas o impasse não foi resolvido.

“Presidente, o senhor está com a bola na marca do pênalti. Só falta o senhor chutar”, disse o presidente da Anfavea, Antônio Megale, durante a reunião, segundo relato de pessoas presentes.

Temer respondeu: “É, mas ainda tem um goleiro”, se referindo ao Ministério da Fazenda, contrário aos incentivos, que não estão previstos no Orçamento de 2018. EM DISCUSSÃO De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o Ministério do Desenvolvi­mento discorda que o Rota 2030 possa criar problemas com a UE.

O programa teria sido desenhado para não sofrer as restrições enfrentada­s pelo Inovar-Auto. Oferece desconto de IPI em troca de investimen­tos em pesquisa e desenvolvi­mento. A pasta também acredita que, como o setor automobilí­stico não faz parte do Mercosul e a implementa­ção do acordo com a UE levaria muitos anos, o Rota 2030 não representa­ria um risco para a parceria.

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Juca Varella - 18.jun.14/Folhapress Fábrica da montadora japonesa Nissan em Resende (Rio); governo Temer só pretende implementa­r Rota 2030 depois de acordo entre Mercosul e UE

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