Folha de S.Paulo

Presidente do COB muda estatuto para não assumir endividado Rio-16

Paulo Wanderley e diretoria derrubam cláusula que o obriga a chefiar organizado­r dos Jogos

- ITALO NOGUEIRA PAULO ROBERTO CONDE

Comitê organizado­r da Olimpíada no Rio vive impasse no comando e acumula dívidas de R$ 160 milhões

O novo presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Paulo Wanderley, 67, atuou nos bastidores para não ter de assumir também a direção do comitê organizado­r Rio2016, como determinam os estatutos das duas entidades.

O cartola e sua diretoria tiraram da proposta do novo regimento do COB, que deve ser aprovado em assembleia geral no Rio na próxima quarta-feira (22), item que fala sobre o acúmulo dos cargos.

Assim, ele se exime da incumbênci­a de assumir o Rio2016, que acumula dívidas da ordem de R$ 160 milhões com fornecedor­es e ex-funcionári­os e vive impasse em relação a seu comando —o órgão tem de ser encerrado até 2023.

Mesmo com a manobra, Wanderley ainda terá de tomar uma medida quanto ao estatuto do comitê organizado­r —que também o obriga a encabeçar o organogram­a do Rio-2016. Um desdobrame­nto deve ocorrer em breve.

A situação de impasse na direção da endividada organizado­ra olímpica se agravou ao longo da semana passada.

Foi quando Carlos Arthur Nuzman, que liderou o comitê desde a eleição do Rio como sede dos Jogos, em 2009, entregou carta de demissão.

Ele estava afastado da presidênci­a até então, ainda em decorrênci­a de sua prisão por suspeita de participaç­ão em esquema de compra de votos para a escolha da cidade.

Durante o afastament­o, a presidênci­a interina ficou a cargo de Edson Menezes, apontado pelos membros do conselho gestor do comitê organizado­r no mês passado.

Além de Menezes, o conselho é composto por Luiza Trajano (do Magazine Luiza), Bernard Rajzman (ex-jogador de vôlei), Manoel Cintra Neto (ex-chefe da BM&F) e José Antônio do Nascimento Brito (ex-chefe do conselho editorial do “Jornal do Brasil”).

Eles tentam uma reaproxima­ção com o COI para obter algum apoio financeiro, para quitar dívidas, ou político, para pressionar o governo do Estado e a Prefeitura do Rio a bancar parte do rombo milionário. Contudo, a estratégia ainda não surtiu efeito.

Com a saída de Nuzman, Menezes não pode mais ocupar o posto interino. Entra aí a figura de Wanderley, que se tornou presidente do COB também em outubro.

Tão logo tomou posse no COB, o dirigente foi informado de que, por ordem estatutári­a, teria a obrigação de presidir o comitê Rio-2016.

Segundo os estatutos do COB e do Rio-2016, compete ao mandatário do comitê olímpico nacional presidir “o comitê organizado­r quando a sede dos Jogos Olímpicos, Pan-Americanos e Sulamerica­nos couber a uma cidade brasileira”.

As cláusulas foram incluídas nos documentos durante as gestões de Nuzman e serviam como alicerce para sua plataforma de poder. Ele é o único cartola em toda história a conduzir simultanea­mente a organizaçã­o de uma edição dos Jogos Olímpicos (2009-2017) e o comitê olímpico de seu país (1995-2017).

Ex-presidente da Confederaç­ão Brasileira de Judô, Wanderley rechaçou de imediato assumir essa outra tarefa administra­tiva.

Não bastasse isso, operou para que a determinaç­ão fosse retirada do novo estatuto do COB, cuja reforma foi uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) após o escândalo ligado a Nuzman.

O COI suspendeu repasses que faz ao comitê brasileiro, e condiciono­u a liberação a mudanças de governança.

A Folha apurou que, nesse novo texto, não há qualquer menção à obrigatori­edade presidenci­al de chefiar comitês organizado­res de eventuais megaevento­s no país.

Além da exclusão, foram propostas a criação de conselhos de administra­ção e ética e ampliação do colégio eleitoral com maior participaç­ão de atletas, o que deve passar.

No comitê, Wanderley tem implementa­do política de corte de gastos e já anunciou que a entidade vai deixar sua sede na avenida das Américas, que tem alto custo de aluguel, para se estabelece­r no Parque Aquático Maria Lenk, administra­do pelo comitê.

Com Nuzman fora da jogada e a rejeição de Wanderley, o Rio-2016 tem hoje pouco mais de 20 funcionári­os.

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Ricardo Borges - 31.out.2017/Folhapress Paulo Wanderley, que assumiu em novembro o comando do Comitê Olímpico do Brasil

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