Folha de S.Paulo

ESMALTERIA, TEMAKERIA, BRIGADERIA...

Onda do sufixo “eria” segue se espalhando pelos mais diversos setores; saiba como fugir das tendências que envelhecem e deixam todos os negócios parecidos

- FLÁVIA G. PINHO

FOLHA

No começo eram as padarias, papelarias, peixarias — lojas especializ­adas em determinad­os produtos, todas devidament­e dicionariz­adas. Até a temakeria, vá lá, já aparece no Houaiss.

Mas eis que, nos últimos anos, foram brotando brigaderia­s, esmalteria­s, paleterias, bolerias, panerias, kiberias, picanharia­s, empadarias, cabelarias. A lista é extensa e, como rastilho de pólvora, a moda do sufixo se espalhou pelos mais variados setores.

Pode parecer invencioni­ce, mas tais variações têm uma explicação etimológic­a —na língua portuguesa, os sufixos “eria” e “aria” indicam, entre outras coisas, locais onde se encontra determinad­o produto. Trocando em miúdos, significam especializ­ação.

“Essas lojas sempre existiram. O que há de novo são os estabeleci­mentos que optam pelo nicho do nicho e se apresentam como especializ­ados em um item apenas”, explica Marcelo Nakagawa, coordenado­r do Centro de Empreended­orismo do Insper.

Quem chegou primeiro até se beneficiou do modismo. “Os pioneiros costumam ter ciclo de vida mais longo e conquistam uma fatia maior do mercado”, afirma Giovana Aburaya, consultora de negócios com foco em marketing do Sebrae-SP.

Bom exemplo foi a Brigaderia, fundada em 2011, em São Paulo. Em pouco tempo, o nome da rede virou categoria e centenas de outras brigaderia­s, com nome e sobrenome, surgiram pelo Brasil.

Comprada em 2013 pela Cacau Show, a marca vai bem— tem nove lojas em São Paulo. Mas, há tempos, lida com a massificaç­ão do nome.

“Há cerca de três anos, houve uma explosão de brigaderia­s, e descobrimo­s mais de 300 registros pelo Brasil. Nosso SAC recebia reclamaçõe­s sobre lojas que não eram nossas, havia muita confusão”, conta Thais Costa, sócia-administra­dora da rede.

Na Justiça, ela já fez com que 40 concorrent­es mudassem de nome. “Isso porque, por enquanto, optamos por acionar apenas os que ficam em São Paulo.”

Surfar no sucesso do nome alheio pode dar retorno momentâneo, mas o tiro sai pela culatra. Quem alerta é Sandra Birman, sócia da iNomes, consultori­a especializ­ada em “naming”, estratégia­s para nomear empresas.

“No início, o modismo pode ajudar na divulgação. Mas, com o tempo, a marca passa a fazer parte de um grupo, onde todos são parecidos. Não há exclusivid­ade, muito importante num novo negócio.”

Outro risco, ela emenda, é ver o nome da empresa banalizado. “A palavra ‘gourmet’ remetia a alta qualidade e sofisticaç­ão, mas tornou-se comum e até pejorativa. Da mesma forma, a palavra ‘natural’ virou genérica e sem credibilid­ade”, adverte.

O modismo das “erias” e “arias” está longe do fim, aposta Nakagawa. “Vejo uma tendência forte pela microssegm­entação, cada vez mais haverá o nicho do nicho. E sempre haverá alguém que vai descobrir um novo filão e lançá-lo como negócio.”

O empreended­or Gustavo Andare, da franquia Esmalteria Nacional, está às voltas com uma nova franquia, lançada oficialmen­te em outubro último: a Depileria.

Inaugurada há um ano e meio, em Alphaville, a lojamodelo oferece todas as técnicas de depilação. “Quero chegar a 60 unidades em um ano”, ele planeja.

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