Folha de S.Paulo

Remover o entulho

Com troca do programa de incentivo às montadoras, país deve priorizar políticas que eliminem os excessos burocrátic­os e tributário­s

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No fim do ano, termina o programa de incentivos às montadoras de veículos criado em 2012, no governo Dilma Rousseff (PT). Planeja-se substituir o Inovar-Auto, em termos mais modestos, pelo Rota 2030. Há empecilhos, porém, no caminho do novo pacote de proteção à indústria automobilí­stica.

Ele sofre ataque em duas frentes. O Ministério da Fazenda pretende reduzir o número e o alcance de medidas de proteção setorial —em especial, aquelas que impliquem renúncia de receitas de impostos. Além do mais, incentivos do regime ora em vigor renderam ao Brasil uma condenação na Organizaçã­o Mundial de Comércio.

No que tem de mais substancia­l, o Inovar-Auto tributa pesadament­e empresas que não atinjam um grau mínimo de nacionaliz­ação de seus produtos.

O Rota 2030 em estudo diminui esta proteção tributária e condiciona benefícios a metas de segurança, eficiência energética, pesquisa e incentivo a fornecedor­es locais.

Oferece-se nova oportunida­de para repensar as políticas de desenvolvi­mento industrial, de modo a evitar a perpetuaçã­o de incentivos e o protecioni­smo puro e simples, prejudicia­l ao consumidor.

É preciso que os prazos de vigên- cia sejam limitados e que o objetivo essencial seja a capacidade de competir de fato com produtos fabricados fora do Brasil.

Decerto a abertura deve ser comedida, embora decisiva. As montadoras respondem por 10% de toda a produção da indústria nacional, sem contar os encadeamen­tos em atividades como metalurgia, siderurgia e química, entre outras.

Tal relevância, entretanto, não pode ser um álibi para o imobilismo, mesmo porque a falta de avanços na produtivid­ade de setor tão amplo é um desserviço também grande ao cresciment­o econômico de todo o país.

Além de revisar o volume de incentivos, é preciso rediscutir sua direção. Seria preciso privilegia­r veículos elétricos? Criar um plano integrado para equipament­os de transporte coletivo e investimen­tos na infraestru­tura do setor?

Na verdade, os incentivos se perpetuam por inércia e interesses, tal como aqueles da Zona Franca de Manaus, sem que se reflita sobre o melhor uso de recursos escassos.

Não resta dúvida de que o ambiente de negócios brasileiro constitui um óbice à eficiência e à competitiv­idade nacionais. Mas há que dar um fim a desculpas e à acomodação que resulta em políticas erradas como remendo para outras falhas de governo.

Qualquer programa de incentivos econômicos que mereça o nome deve envolver tanto o fim paulatino de proteções como do entulho burocrátic­o e tributário. BRASÍLIA -

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