Folha de S.Paulo

Em Marte, daqui a cem anos

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RIO DE JANEIRO - F. Scott Fitzgerald perguntou certa vez a Ernest Hemingway: “Ernest, você sabe qual é a diferença entre os ricos e os pobres?”. Hemingway respondeu: “Sei. Os ricos têm mais dinheiro”. Imagino que Scott estivesse pensando em outra coisa, mas a resposta de Hemingway fazia sentido. Ainda faz. Neste momento, por exemplo, enquanto o Brasil bate recordes negativos em educação, saúde, segurança, emprego e investimen­tos, outros países fazem planos para o futuro. Por vários motivos, eles têm mais dinheiro.

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) vãoconstru­iremDubaio­protótipod­e uma cidade para 600 mil pessoas, a ser levantada daqui a cem anos, em Marte.Sim, emMarte. Asimples ideia de um projeto tão remoto demonstra como eles estão de bem com a vida. O protótipo é necessário para que, quandocheg­arahora,em2117,osmoradore­s em Marte possam viver a salvo da tremenda radiação e da chuva de partículas que assola o planeta o tempo todo. O que talvez leve você a perguntar por que os EAU não constroems­uacidadenu­mlugarmais­perto e menos hostil. Pois esta é uma prerrogati­va dos ricos —o dinheiro é deles, e eles o botam onde quiserem.

Como se constrói uma cidade em Marte a partir da Terra? Nós aqui levaríamos os tijolos de avião, como JK fez com Brasília. Os árabes farão diferente: robôs vão imprimi-la in loco, em 3D, usando a própria poeira marciana como matéria-prima.

O problema é que a cidade será formada por cinco domos, cada qual com uma função: haverá o domo agrícola, o administra­tivo, o educaciona­l, o de pesquisa e o de lazer. Mais ou menos como Brasília, com seus setores estanques —residencia­l, comercial, diplomátic­o, hoteleiro etc.—, que induzem ao elitismo e ao provincian­ismo.

Por sorte, os árabes têm cem anos pela frente para não incorrer nesse equívoco.

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