Folha de S.Paulo

Nos EUA, Museu da Bíblia inclui polêmicas

Nova exibição reúne peças trazidas do Oriente Médio e história do livro cristão; Justiça suspeita de contraband­o

- ESTELITA HASS CARAZZAI NELSON DE SÁ

Família evangélica dona de rede varejista investiu US$ 500 milhões em projeto; mostra é gratuita

A família americana Green tem um patrimônio estimado em US$ 6,2 bilhões. Dona de uma rede de lojas de decoração e bricolagem, a Hobby Lobby, começou a construir seu império com David, o único dos seis filhos de um pastor que não se sentia vocacionad­o para a vida religiosa.

Neste sábado (18), os Green abriram em Washington um empreendim­ento no qual investiram meio bilhão: o Museu da Bíblia.

Não é a primeira vez que a família se envolve na defesa de ideais bíblicos.

Em 2014, foram à Suprema Corte para obter o direito de não pagar por anticoncep­cionais de seus funcionári­os, como pedia a nova regulação da saúde. Conseguira­m. Na época, lideravam uma campanha para levar o estudo da Bíblia em escolas de Oklahoma, seu Estado natal.

Instituíra­m como missão de sua empresa “honrar o Senhor em tudo o que fazem”. As lojas fecham aos domingos para que os funcionári­os frequentem igrejas, oferecem assistênci­a médica a eles e têm aumentado a remuneraçã­o mínima por hora. COLEÇÃO Foi há sete anos que começaram a investir em artefatos do Oriente Médio, boa parte relacionad­a à história do Cris- tianismo. Hoje, têm milhares deles —alguns de alto valor histórico, como livros da biblioteca de Alexandria e manuscrito­s do Mar Morto.

Foram aquisições polêmi- cas: neste ano, a Justiça apontou suspeitas de que parte da coleção tenha sido adquirida no mercado negro e entrado ilegalment­e nos EUA, com etiquetas de “amostras” ou “azulejos de cerâmica”.

A família selou um acordo para devolver 400 itens suspeitos e pagar US$ 3 milhões de multa —e, reforça, as peças não estão em exposição.

Os fundadores afirmam que o museu busca manter uma exposição “profission­al e imparcial” sobre o livro, com foco em sua história, suas narrativas e seu impacto social.

“Nossa meta não é evangeliza­r nem fazer proselitis­mo”, diz à Folha Jeremy Burton, diretor de comunicaçã­o do museu. Busca-se a objetivida­de.

As exibições incluem controvérs­ias como a Inquisição, a perseguiçã­o a indígenas e judeus e a Guerra Civil dos EUA, quando a Bíblia foi usada para justificar a escravidão.

Mas o esforço às vezes falha. “Sabíamos que haveria críticas dos dois lados”, disse o diretor de comunicaçã­o à Folha. “Ouvi gente dizer que ‘não há Jesus suficiente’.”

Para ele, o importante é conhecer o local —e o convite surtiu efeito: há ingressos disponívei­s só em dez dias.

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Alex Wong/Getty Images/AFP Visitantes em exposição sobre o Antigo Testamento no Museu da Bíblia, em Washington

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