Folha de S.Paulo

Reino Unido fez lobby no país por petroleira­s, afirma jornal

Encontro com governo brasileiro ocorreu meses antes de benefício para indústria

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Secretário-executivo de Minas e Energia diz que reunião com britânico foi discussão normal entre dois países

O ministro de comércio do Reino Unido teria feito lobby com o governo brasileiro para defender os interesses das petroleira­s britânicas BP, Shell e Premier Oil nos campos de tributação e regulação ambiental, indica um telegrama diplomátic­o obtido pela ONG Greenpeace.

A informação foi revelada pelo jornal “The Guardian” neste domingo (19).

Em março, o ministro de comércio britânico, Greg Hands, viajou a Rio a Belo Horizonte e a São Paulo. Segundo o jornal, ele teria se encontrado com o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, para discutir os interesses das empresas britânicas no Brasil.

Em resposta, Pedrosa teria dito que estava pressionan­do o governo brasileiro para atender às demandas das companhias, de acordo com o telegrama diplomátic­o.

O governo britânico nega que tenha atuado em prol das companhias.

Procurado pela Folha, Pedrosa confirmou que houve o encontro com o ministro, mas disse que “foi uma discussão normal entre representa­ntes de dois países”.

“A palavra lobby é usada pelo jornal como se houvesse segundas intenções —e não foi assim”, completou o secretário-executivo.

Uma das prioridade­s de Hands, segundo o telegrama, seria o afrouxamen­to das exigências de uso de conteúdo nacional na indústria do petróleo porque isso beneficiar­ia diretament­e a BP, a Shell e a Premier Oil.

As exigências de compra de equipament­os de fornecedor­es brasileiro­s foram estabeleci­das no governo Dilma Rousseff e flexibiliz­adas em fevereiro, na gestão Michel Temer, que reduziu pela metade o índice exigido.

Meses depois, em agosto, o governo brasileiro renovou o Repetro, regime de isenções fiscais para importação de equipament­os da indústria do petróleo, até 2040. Com a renovação, permitiu-se também que insumos de origem nacional ficassem isentos.

Pedrosa diz que as discussões sobre conteúdo nacional integram a agenda de modernizaç­ão do Brasil e já estavam em andamento antes do encontro com o britânico.

Nas rodadas de leilões do pré-sal, no mês passado, a Shell levou 3 das 6 áreas que disputou.

O documento foi entregue pelo governo do Reino Unido ao Greenpeace à pedido da organizaçã­o. Para a ONG, o departamen­to de comércio britânico atuou como “um braço de lobby para a indústria de combustíve­is fósseis”.

Um representa­nte do órgão, não identifica­do pelo “Guardian”, declarou que uma das tarefas do departamen­to é “encorajar oportunida­des de investimen­to internacio­nais para negócios do Reino Unido” e que o tema tratado nas reuniões no Brasil foi “melhorar o processo de licenciame­nto ambiental, garantindo uma competição mais justa entre empresas locais e estrangeir­as”.

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