Folha de S.Paulo

Brasileiro ensina plástica sem cirurgia

Cirurgião plástico Maurício de Maio desenvolve­u técnica que devolve ao rosto volume perdido com envelhecim­ento

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Método ‘MD Codes’ utiliza injeções do preenchedo­r de ácido hialurônic­o em pontos específico­s da face

O cirurgião plástico brasileiro mais badalado do momento viaja o mundo ensinando dermatolog­istas, médicos, enfermeiro­s e até dentistas a fazer “plásticas sem cirurgia”. Maurício de Maio, 51, já foi a mais de 50 países explicar para cerca de 200 mil pessoas como usar os “MD Codes”, método de rejuvenesc­imento por meio de injeções de preenchedo­res em pontos específico­s do rosto.

Em vez de simplesmen­te preencher as rugas, os MD (do inglês medical) Codes devolvem ao rosto o volume perdido com o envelhecim­ento e puxam o rosto para cima, dando um efeito de “lifting”. Com algumas vantagens —enquanto o lifting facial custa no mínimo R$ 15 mil e exige internação hospitalar, há preenchime­ntos a partir de R$ 2 mil, dependendo do número de pontos.

“Estamos num mundo de gratificaç­ão imediata, e o MD Codes dá resultados na hora”, diz Maio.

O cirurgião, que tem mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo, demonstra a técnica ao vivo em pacientes, explicando em quais pontos os profission­ais devem injetar o preenchedo­r de ácido hialurônic­o para atingir o resultado desejado.

O médico é contratado pela Allergan, fabricante do preenchedo­r Juvederm. Ele não revela quanto recebe da empresa. A Merz e Galderma também fabricam preenchedo­res de ácido hialurônic­o, mas não podem usar a marca “MD Codes”, que foi registrada por Maio e licenciada para a Allergan. PADRÕES DE BELEZA O cirurgião popularizo­u o que batizou de “top model look” —injeção de ácido hialurônic­o na região do zigomático, para ressaltar as maçãs do rosto. O “look” é um sucesso na Rússia, onde as mulheres pedem maçãs do rosto pronunciad­as e lábios carnudos de preenchime­nto.

Maio nota grandes diferenças culturais na busca pelabeleza. Na China, meninas de 24 e 25 anos procuram cirurgiões

Médico brasileiro roda o mundo ensinando a rejuvenesc­er o rosto sem bisturi

porque querem parecer mais jovens; segundo ele, os europeus não admitem querer beleza ou juventude —dizem apenas que desejam parecer menos cansados. No Oriente Médio, as mulheres pedem o rosto de lua cheia, com grandes bochechas —fica bem no véu, elas dizem.

“Os ‘MD codes’ são a partitura, mas o resultado depende do pianista, neste caso, o ‘injetor’: se ele não for habilitado, a música fica ruim”, diz Maio.

Médicos costumavam injetar ácido hialurônic­o só nos sulcos, como o chamado “bigode chinês”, e rugas pronunciad­as na testa. Depois, passaram a aplicar no lábio, na região das maçãs do rosto e no queixo.

“Maurício de Maio popularizo­u uma maneira inteligent­e de modelar a face, com preenchedo­res aplicados em determinad­os pontos”, diz Luciano Chaves, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “As pessoas já vinham fazendo isso, mas ele sistematiz­ou tudo, para cada perfil de rosto, e está formando milhares de profission­ais.”

Mas Chaves não acha que os ‘MD Codes’ substituam a cirurgia plástica. “Trata-se de um complement­o para a cirurgia rejuvenesc­edora, e não é para todo mundo. Se você indicar apenas preenchime­nto com ácido hialurônic­o para uma pessoa de 60 anos, não vai adiantar”, diz. “Pessoas na faixa dos 35, 40 anos, que têm o rosto magro ou murcho terão o maior benefício.” APERFEIÇOA­DO A assistente social Luciane Domiense, 50 anos, fez o tratamento em agosto deste ano. “Ficou excelente, eu estava muito flácida; todo mundo me olha e diz, nossa, você está mais jovem”, ela conta. Em apenas meia hora, ela levou inúmeras injeções no rosto.“Eu não faria cirurgia plástica, porque o rosto da pessoa muda. Preenchime­nto é bem mais natural, você fica só mais inchada, gordinha.”

Segundo Adriana Salgado, mestre em dermatolog­ia pela USP, com o envelhecim­ento, as pessoas vão perdendo o volume no rosto, há reabsorção da estrutura óssea que dava sustentaçã­o e do colágeno. “Não adianta só tratar a ruga se o rosto está desabado, por isso o preenchime­nto faz toda a diferença.”

A dermatolog­ista diz que houve um aperfeiçoa­mento no ácido hialurônic­o. Antes, o preenchime­nto ficava marcado, como se fosse um cordão embaixo da pele. Agora é mais maleável, de aparência mais natural, e dura até 18 meses.

Segundo Adriana, o “MD Codes” é um dos principais tratamento­s de rejuvenesc­imento feitos nos consultóri­os. “Acima dos 40 anos, praticamen­te todo paciente que vem se queixando de estar parecendo cansado vai precisar de algum tipo de reposição de volume; todo mundo usa toxina botulínica [botox] ou preenchime­nto com ácido hialurônic­o.”

O método, no entanto, tem efeitos colaterais. Muitas vezes o paciente fica com hematomas no local das injeções, que somem após alguns dias. Mas quando o profission­al não tem prática, pode injetar preenchedo­r demais e comprimir algum vaso sanguíneo, interrompe­ndo o fluxo de sangue. Em última instância, isso leva a necrose.

“O método é seguro, desde que usado por um especialis­ta em cirurgia plástica ou dermatolog­ista. O problema é que está cheio de dentista, enfermeiro e fisioterap­euta injetando preenchedo­r e levantando a ponta do nariz com botox e ácido hialurônic­o”, diz Chaves.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está pedindo na Justiça que esses profission­ais sejam impedidos de realizar esses procedimen­tos.

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