Folha de S.Paulo

O clássico do povo

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

OS DOIS clubes mais populares do país voltaram a se enfrentar e, de novo, num palco ínfimo, para apenas 20 mil torcedores, na Ilha do Governador, estádio agora batizado, no popular, de Ilha do Urubu, a ave que o imortal Henfil escolheu para simbolizar o Flamengo, mas que, no papel de abutre, serve também para definir o estágio de pobreza mental e organizaci­onal do futebol brasileiro.

Flamengo x Corinthian­s e Corinthian­s x Flamengo deveriam lotar os maiores estádios do país em quaisquer circunstân­cias, independen­temente da situação de cada um na tábua de classifica­ção.

Como mostrou no domingo (19) o vizinho PVC, nada menos que 30% dos jogos entre ambos tiveram públicos inferiores a 20 mil torcedores, o que, na cabeça vazia da cartolagem nacional, demonstra que não é preciso levá-los para grandes estádios.

O raciocínio é o mesmo que con- vive comodament­e com a média de público do maior campeonato do país, de 15.987 torcedores até a 35ª rodada, inclusive, com taxa de ocupação de 41%, uma miséria que só comprova que se poderíamos ser, pelas glórias conquistad­as e pelo talento do jogador brasileiro, estamos longe de ser o tal país do futebol.

Com um mínimo de planejamen­to, com um pouco de marketing de verdade, sempre, assim que saísse a tabela do Campeonato Brasileiro, rubro e alvinegros poderiam assegurar seus ingressos para aquele que deveria ser o maior clássico do país. E não só para ele, é claro.

Você poderá estar pensando que se trata de um exagero, que os maiores clássicos brasileiro­s são os entre as rivalidade­s estaduais, o Dérbi paulista entre Corinthian­s e Palmeiras, o Gre-Nal, Fla-Flu, Cruzeiro x Galo. Mas não obrigatori­amente.

Barcelona x Real Madrid e Liverpool x Manchester United provam que não necessaria­mente os embates de maior rivalidade têm de ser entre times da mesma cidade ou Estado, também porque, conceda-se, em países que, por suas dimensões, não formaram sua cultura futebolíst­ica em campeonato­s estaduais.

Admita-se, ainda, que jamais um Corinthian­s x Flamengo será do tamanho de nossos clássicos locais.

Nem por isso faz sentido não trabalhar para torná-lo imenso, do tamanho de suas massas torcedoras, a Fiel e a Nação.

Em 1976, a torcida alvinegra dividiu o Maracanã com 70 mil torcedores numa semifinal de Brasileiro com a do Fluminense.

No ano passado a rubro-negra tomou conta do Pacaembu em festa igualmente tocante.

O futebol brasileiro vive à míngua porque, além de antro de corrupção, é burro feito uma porta, incapaz de abrir os estádios para quem gosta dele. O JOGO Ah, sim, teve jogo na Ilha do Urubu, sob chuva, que desestimul­a até quem tivesse ingressos antecipada­mente, mais ainda quem deixou para a última hora.

O alegre heptacampe­ão de ressaca contra os cariocas em crise e com as facas entre os dentes.

A tal ponto que amassou o Corinthian­s no primeiro tempo e fez 3 a 0, apesar de o segundo gol ter nascido de pênalti inexistent­e.

No segundo, o campeão tratou de evitar a catástrofe.

Só 13 mil torcedores viram a boa vitória carioca. Imagine se fosse no Maracanã, para 78 mil.

Por enquanto é preciso ter muita imaginação.

Flamengo x Corinthian­s deveria ser um jogo com casa cheia em qualquer circunstân­cia. Por que não é

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