Folha de S.Paulo

ANÁLISE LP do festival é documento essencial da cena alternativ­a do país

- ANDRÉ BARCINSKI

FOLHA

Um documento essencial da história da cena alternativ­a brasileira ressurge com o lançamento de uma versão ampliada do LP “O Começo do Fim do Mundo”. Gravado em 27 e 28 de novembro de 1982, no Sesc Pompeia, o disco registrou o maior festival punk acontecido até então no Brasil: cerca de 20 bandas tocaram para um público estimado em três mil pessoas.

Organizado pelo autor e dramaturgo Antonio Bivar (que em 1982 lançava o influente livro “O que é Punk”) e pelo músico Callegari, da banda Inocentes, o festival reuniu bandas que teriam carreiras longevas, como Ratos de Porão, Cólera, Inocentes e Olho Seco, e outras que acabariam esquecidas, como Estado de Coma, Passeatas, Hino Mortal e o grupo feminino Skisitas.

O relançamen­to de “O Começo do Fim do Mundo” foi produzido pela Nada Nada Discos, selo especializ­ado em reedições de compactos e LPs de punk e sons alternativ­os, sempre em edições caprichada­s e com material que não constava das edições originais. Se o disco de 1982 era um LP simples, essa reedição é um LP duplo, com 23 músicas a mais que o original. O show foi gravado em fita cassete, e a qualidade técnica não é das melhores, mas o disco vale como registro histórico de um movimento im- portante de nossa cena musical alternativ­a.

Mas o destaque do relançamen­to é o material gráfico. A Nada Nada pôs as mãos num acervo inédito e riquíssimo de Paul Constantin­ides, um fotógrafo americano que registrou o festival, mas nunca havia publicado as fotos. Ele focou sua atenção na plateia, capturando imagens dos jovens proletário­s que formavam a maioria do público.

A nova edição do disco traz um livreto de 36 páginas com as fotos de Constantin­ides, e só isso já valeria seu preço. As imagens são comoventes, capturando os jovens punks brasileiro­s em toda sua ingenuidad­e e originalid­ade. Longe das capitais do punk, como Londres e Nova York, os moleques criavam seu próprio visual, num simulacro tropicalis­ta de Sid Vicious, com direito a coturnos e alfinetes espetados nos rostos, misturados a cabelos compridos de metaleiros e até gravatinha­s “mod”. No meio da plateia, um punk ostenta uma camiseta: “Paulo Maluf – Deputado Federal”.

Oshowderel­ançamentod­o LP“OComeçodoF­imdoMundo” acontece no SescPompei­a, no domingo (26), mesma data do festival original em 1982. Para esse show, uma banda formada por Clemente (Inocentes), Mingau (Ratos de Porão) e Muniz (Fogo Cruzado), vai tocar todas as músicas do disco, acompanhad­os por membro das bandas Cólera, Lixomania, Olho Seco, Ulster, Skisitas, Dose Brutal, Neuróticos, Juízo Final, Suburbanos, Hino Mortal, Inocentes e Fogo Cruzado.

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