Folha de S.Paulo

Crítico ao mercado, Azzedine Alaïa esculpiu forma feminina

Estilista tunisiano, morto no sábado (18), virou ‘tesouro’ francês

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Azzedine Alaïa, um dos mais determinad­os estilistas dos séculos 20 e 21, morreu neste sábado (18) em Paris, aos 82 anos, em decorrênci­a de um ataque cardíaco.

Conhecido como escultor da forma feminina, tendo vestido mulheres como Michelle Obama e Lady Gaga, Alaïa era igualmente famoso por rejeitar o mercado de moda e por sua crença de que esse sistema havia corrompido o poder criativo da arte.

Ele raramente cedia ao calendário de desfiles, preferindo mostrar seu trabalho quando ele o considerav­a pronto.

Alaïa dedicou sua vida à crença de que moda era mais do que somente peças de roupa, e sim um elemento no empoderame­nto das mulheres e no debate cultural.

Nascido na Tunísia, em 1935, Alaïa mudou-se para Paris em 1957 para trabalhar com Christian Dior, vivendo no quarto de empregada da condessa Nicole de Blégiers e pagando seu aluguel costurando roupas para ela e seus filhos. A notícia se espalhou e ele se tornou um segredo interno da elite francesa. Ele abriu sua própria loja em 1979.

Alaïa apresentou sua primeira coleção “prêt-à-porter” (pronta para vestir) em 1980 e foi proclamado o “rei da silhueta justa” —embora na verdade suas roupas fossem muito mais do que isso: ele usava couros e malhas para dar forma e sustentar o corpo, transforma­ndo-o na melhor versão de si mesmo.

Ainda que sua estética tenha saído de moda com o advento do minimalism­o desconstru­ído nos anos 1990, ele nunca se permitiu distrair pelas tendências dos outros.

Em 2007, a Compagnie Financière Richemont comprou a maior parte das ações de seu negócio, permitindo-o expandir em seu próprio ritmo, o que resultou em 300 pontos de venda no mundo até o ano passado. Para além das passarelas, criou para balés e óperas, realizava exposições de arte e planejava uma livraria.

Alaïa retornou ao calendário da alta-costura em julho, após seis anos. Na plateia estavam o ex-ministro francês da cultura, Jack Lang, a exprimeira-dama da França e modelo de Alaïa, Carla Bruni-Sarkozy, entre outros. Ele havia se tornado uma espécie de tesouro nacional e todos estavam lá para prestigiá-lo.

Ele deixa sobrinhos e seu companheir­o, o pintor Christoph von Weyhe.

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Gabriel Bouys/AFP O estilista Azzedine Alaïa em uma exposição de suas peças na Villa Borghese, em Roma

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