Folha de S.Paulo

Chile sem sustos

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O desempenho um tanto abaixo do esperado do ex-presidente Sebastián Piñera (2010-2014) nas eleições chilenas, realizadas no domingo (19), rendeu alguma surpresa ao primeiro turno.

A ausência de grandes sobressalt­os políticos revela-se, com efeito, um dos vários indicadore­s de como o país tem destoado positivame­nte de seus vizinhos.

A despeito de ter obtido 36,6% dos votos, em vez dos 45% previstos nas pesquisas, o centro-direitista Piñera ainda é o favorito para suceder Michelle Bachelet, da centro-esquerda. Se isso ocorrer, ambos terão se alternado no cargo desde 2006, quando Bachelet iniciou seu primeiro mandato.

Tal pêndulo no espectro partidário não implicou desvios na condução macroeconô­mica, tampouco retrocesso­s na área social ou na conquista de direitos civis. Em caso de retorno de Piñera ao Palácio de La Moneda, não há temor de mudança de rumo.

Sem aflições mais imediatas, a populaçãon­ãodemonstr­ougrande interesse em ir às urnas. Só 46,7% dos 14,3 milhões aptos a votar o fizeram —o menor índice dentre os sete pleitos ocorridos desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

Sob uma ótica mais crítica, pode-se até entender a baixa participaç­ão como rechaço a nomes tradiciona­is, uma vez que a outsider Beatriz Sánchez obteve apenas dois pontos percentuai­s a menos que o candidato do governismo, o senador Alejandro Guillier.

Entretanto, no mais das vezes, comparecim­entos eleitorais pouco expressivo­s são reflexo de amadurecim­ento político e um fenômeno razoavelme­nte comum em nações avançadas, em cuja maioria o voto não é obrigatóri­o —sistema ao qual os chilenos aderiram em 2012.

Durante a campanha, Piñera lançou uma meta de, até 2025, levar seu país ao grupo dos considerad­os desenvolvi­dos. Organismos internacio­nais como ONU, FMI e Banco Mundial usam réguas distintas para essa medição, mas em todas elas o Chile é o mais próximo de alcançar primeiro o objetivo entre os latino-americanos.

Nessa empreitada, não restam dúvidas de que estabilida­de e previsibil­idade política auxiliam a pavimentar a via chilena.

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