Folha de S.Paulo

O homem do olho roxo

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RIO DE JANEIRO – A biografia “O Homem que Abalou a República” (Record, 362 páginas) não revela um dos maiores mistérios da política nacional: quem teria, afinal, dado o soco no olho esquerdo de Roberto Jefferson, provocando o hematoma com o qual o deputado federal desfilava logo depois de ter denunciado o mensalão, em 2005? Mesmo assim, as duas versões para o olho roxo apresentad­as no livro do jornalista Cássio Bruno já valem a pena.

Na primeira delas, bolada pelo próprio Jefferson, para tirar uma dúvida sobre a autoria da música “Nervos de Aço”, ele subiu numa escada de alumínio para alcançar o topo de um armário de madeira sucupira e lá pegar uma caixa de CDs. Desequilib­rou-se, agarrou-se no móvel, que tombou; na queda, bateu o olho na quina. Meter o nome de Lupicínio Rodrigues, o autor do samba gravado por Paulinho da Viola, numa história dessas, sem pé nem cabeça, é um pecado.

Na segunda versão é uma amante, a misteriosa M., quem derruba o deputado embaixo do armário. O fato é que ele levou 20 pontos (12 na musculatur­a e oito externos no hematoma), um ferimento que causou mais espanto na CPI dos Correios do que o dinheiro desviado da empresa.

A biografia não autorizada mostra como se forjam e atuam certos políticos. Jefferson se elegeu pela primeira vez em 1982. Era um jovem advogado de porta de cadeia, popular porque participav­a do programa mundo-cão “O Povo na TV”, ao lado de Sergio Mallandro, Wagner Montes, José Cunha e similares.

Em 2012, pivô do escândalo do mensalão, foi condenado a sete anos e 14 dias de prisão. Hoje cumpre pena na sua casa da Barra da Tijuca e, mesmo com o mandato de deputado federal cassado, recebe aposentado­ria de R$ 23.344,70. Não satisfeito, quer voltar a Brasília. Sentindo a barra pesada no Rio de Janeiro, vai se candidatar por São Paulo. Leva? NABIL BONDUKI

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