Folha de S.Paulo

O dono de imóvel alugado que tem visto sua renda extra

- ANAÏS FERNANDES

DE SÃO PAULO

A deflação nos aluguéis com aniversári­o no segundo semestre deste ano pegou locatários —e locadores— de surpresa e deve continuar pelos próximos meses, apontam profission­ais do setor.

O IGP-M, índice de reajuste usado em cerca de 95% dos contratos de locação na capital paulista, caiu 1,4% nos 12 meses até outubro.

“As pessoas estão espantadas, porque estão vendo o aluguel abaixar. É uma surpresa positiva para os clientes”, diz Roseli Hernandes, diretora da imobiliári­a Lello.

Os valores dos novos contratos de aluguel, por outro lado, acumulam alta de 0,7% no período. Segundo especialis­tas, esse movimento é um sinal de que o mercado de locação residencia­l em São Paulo está se recuperand­o, com um equilíbrio maior entre oferta e demanda e valores mais ajustados.

“Havia uma oferta muito grande e os proprietár­ios cederam muito nos preços. Hoje, o locatário ainda tem vantagens, mas vemos que isso já está mudando. Os preços estão se readequand­o à realidade do mercado”, diz Mark Turnbull, diretor de locação do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliári­o).

Desde julho de 2014 que a variação nos valores de novos contratos não superava a do IGP-M. A virada começou em junho deste ano, quando novos contratos acumularam queda de 0,7% em 12 meses, enquanto o IGP-M teve recuo um pouco maior, de 0,8%.

“O mercado começou a reagir, desde então os valores sobem e caem um pouco, mas é uma variação saudável, sem altos e baixos violentos. O viés é de recuperaçã­o com variação positiva”, diz Turnbull.

Para José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP (conselho dos corretores), o aluguel continua “muito cobiçado” devido à restrição de financiame­nto e à baixa produção de novos imóveis.

“Isso pressiona os preços da locação. Tendo ainda muita procura e a oferta caindo, os preços sobem”, afirma.

Na prática, com IGP-M em alta, era mais vantagem para o inquilino buscar um novo aluguel mais barato do que esperar o reajuste de aniversári­o do imóvel já ocupado. Agora, a lógica se inverteu.

“Se a pessoa gosta de onde mora, deve manter, porque o aluguel não está aumentando e mudança gera despesa”, diz Hernandes.

Quem não estiver satisfeito, no entanto, ainda consegue mais opções no mercado.

“Agora é o momento de decidir qual é a melhor alternativ­a. Ambos os caminhos estão favoráveis ao locatário”, completa Hernandes.

Esperar muito para se mudar, entretanto, pode não ser vantajoso. “As variações no mercado de locação são mais sensíveis às mudanças da economia. Um cenário econômico em queda gera menos locações e, consequent­emente, os preços podem ser impactados para baixo. Por outro lado, a recuperaçã­o da economia normalment­e tem um impacto quase imediato no mercado de locações”, diz Aline Borbalan, chefe de inteligênc­ia de mercado do portal imobiliári­o VivaReal.

Segundo Hernandes, os valores devem seguir estáveis até junho de 2018. Depois, porém, “se a economia continuar progredind­o, podemos ver um aumento nos preços”. PROPRIETÁR­IOS cair não deve se desesperar, aponta Hernandes.

No aniversári­o do contrato, é possível trocar o índice de reajuste, do IGP-M pelo IPCA, a inflação oficial do país, por exemplo. “Porém, todos os índices sofrem flutuações, e o IGP-M é o que melhor reflete o mercado imobiliári­o. Se o proprietár­io sai desse índice, também pode ter prejuízos”, diz Hernandes.

Ela recomenda manter-se no IGP-M “porque a redução não é muito alta e daqui a pouco ele sobe novamente”.

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