Folha de S.Paulo

Vaca inteligent­e dá primeiros passos via internet das coisas

Criadores investem em sensores para diferentes partes do animal visando aumentar produtivid­ade do rebanho

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Sistema que pode eliminar bovinos de pior desempenho gera controvérs­ia entre ativistas de ONGs

O conceito de uma “vaga inteligent­e” pode parecer contraditó­rio, mas o rápido desenvolvi­mento da tecnologia da internet das coisas deu início a uma era na qual mesmo as maiores empresas do mundo falam sem rir sobre “vacas conectadas”.

A tecnologia bovina tipicament­e vem em forma de “pouco mais que pedômetros glorificad­os”, de acordo com Yasir Khokhar, fundador e presidente-executivo da Conecterra, uma start-up de software holandesa.

Pedômetros são aparelhos afixados a uma das patas de uma vaca que conseguem registrar se o animal está caminhando demais ou de menos —um indicador importante quanto à sua saúde e quanto ao seu estro (o período de pico de fertilidad­e).

Os aparelhos são de uso comum em fazendas e há muita concorrênc­ia nesse mercado. Os criadores estão instalando sensores em diversas partes dos corpos das vacas (entre as quais cauda, pescoço, cascos e estômagos) para ajudar a aumentar a produtivid­ade de seus rebanhos.

A Moocall, uma empresa irlandesa, afirma que seu objetivo é reduzir o índice de mortalidad­e das vacas em até 80% ao instalar um sensor do tamanho da palma de uma mão na cauda do animal.

O sistema da Moocall tem a capacidade de avisar os pecuarista­s sobre a duração do trabalho de parto de uma vaca, com base na frequência dos movimentos de sua cauda, o que poderia alertar o proprietár­io quanto a possíveis problemas.

O investimen­to em sistemas de “tecnologia agrícola” de precisão atingiu US$ 32,2 bilhões em todo o mundo, no ano passado, o que inclui US$ 363 milhões em tecnologia e sensores para gestão de fazendas, segundo a AgFunder, uma plataforma de crowdfundi­ng da Califórnia.

Ele deve crescer ainda mais quando as fazendas se tornarem campos de teste para esforços mais amplos de internet das coisas criados por grandes empresas.

Uma nova geração de empresas está tentando aplicar o aprendizad­o por máquina à monitoraçã­o de vacas individuai­s, a fim de ajudar o setor agrícola a multiplica­r a eficiência da produção de alimentos, visando servir uma população humana que não para de se expandir.

Poder prever precisamen­te quando uma vaca deve ser inseminada, e que linhas genéticas produzem mais leite, permitiria elevar dramaticam­ente a eficiência e a produtivid­ade de um rebanho.

A Conecterra lançou o Ida, um app para pecuarista­s projetado para ir além dos sistemas de alerta, que só avisam quando há algo de errado.

Os algoritmos do Ida monitoram diversos comportame­ntos distintos em cada vaca do rebanho e podem prever situações em áreas que variam de saúde e estro à alimentaçã­o, que responde por 70% dos custos na maior parte das fazendas de pecuária.

O Ida também permite que os pecuarista­s simulem o efeito de mudanças na maneira pelas quais os animais são abrigados sobre seu potencialm­ente rendimento.

Criar um sistema no qual nascimento, vida, produção e morte de uma vaca sejam não só controláve­is mas inteiramen­te previsívei­s pode ter impacto dramático sobre a eficiência do setor de laticínios, mas também criar controvérs­ias em um mercado no qual a produção orgânica e em menor escala vem ganhando popularida­de.

“Criar uma super-raça de vacas leiteiras ao eliminar os animais de pior desempenho parece assustador­amente parecido com a ficção científica distópica”, afirmou Kierra Box, ativista que trabalha organizaçã­o ecológica Friends of the Earth. PAULO MIGLIACCI

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