DELICADEZA DO FUTURO
Arquiteto japonês Sou Fujimoto, tema de mostra que abre hoje em São Paulo, desafia ideia de que arquitetura de impacto se faz com obras superlativas
DE SÃO PAULO
Uma casa construída em um terreno de 55 m² em Tóquio transformou o japonês Sou Fujimoto em sensação da arquitetura internacional. A obra, uma sucessão de caixas de vidro em diferentes níveis, empilhadas como se fossem galhos, desafiou quem achava que arquitetura de impacto se fazia com obras superlativas.
Aos46anos, jovem nocompetitivo mundo das pranchetas, Fujimoto espalhou projetos e obras por lugares como Japão, EUA, China, Reino Unido, Grécia, Espanha e Chile. Ele abre nesta terça (21) uma mostra sobre seus trabalhos na Japan House, onde dá uma palestra gratuita às 16h30.
Na verdade, são duas as exposições. No térreo, “Arquitetura Está em Toda Parte” provoca estranhamento ao colocar miniaturas de humanos sobre 70 objetos —de pacotes de batatinhas fritas a cartelas de bingo.
Cabe ao visitante imaginar a relação entre pessoas e arquitetura, como nos encaixamos ao entorno. “As maquetes desta exposição dão forma ao inconsciente e o torna consciente”, disse ele à Folha. “Objetos que a princípio nada têm a ver com a arquitetura são notados como algo que nos cerca e nos faz refletir sobre essa relação.”
No primeiro andar, “Futuros do Futuro” traz peças e painéis de obras do arquiteto, como a tal casa-árvore transparente e vertical, de 2010. Além dos tamanhos diminutos e da ostentação zero, comuns à tradicional arquitetura residencial nipônica, suas casas parecem especialmente mais preparadas para um mundo de privacidade e espaço cada vez mais escassos.
Até na China, onde o céu não é limite para arquitetos, o japonês desenhou modestas cabanas para um complexo com ateliês, galeria de arte e alojamento para artistas nos arredores de Guangzhou.
Mas ele também recebe encomendas do mundo do luxo. No Design District de Miami, que encanta turistas e políticos brasileiros, projetou um shopping com cara de galeria antiga. Em vidro azul, as lojas ficam em arcadas abertas e protegidas por quebrasóis, com vista para uma praça —onde uma estrutura geodésica dá acesso ao estacionamento.
Na região de Omotesando, na capital japonesa, onde o quem-é-quem da arquitetura global desenha lojas para as maiores marcas da moda (Herzog & De Meuron para Prada, Toyo Ito para Tod´s, Sanaa para Dior), Fujimoto voltou a apostar no menos é mais.
Em um terreno de 160 m2, fez um empreendimento multiuso de cinco pavimentos, com lojas, escritórios e um apartamento. O concreto é imaculadamentebrancoetem vegetação escalando pelos andares. Outra casa-árvore.
“Defendo o futuro primitivo, onde a natureza convive bem com o patrimônio construído, tal como alguém descansar sob uma árvore ou encontrar abrigo em um local rochoso.”
Ele abordou esse e outros assuntos na FAU-USP, como parte da Bienal de Arquitetura de São Paulo. Para Fujimoto, bienais têm insistido na temática do “arquiteto enquanto cidadão” e colocando os processos em evidência, mas isso não sinaliza o fim da valorização do espaço construtivo.