Folha de S.Paulo

Taxa de câmbio

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Há algumas “verdades” que precisam ser reafirmada­s permanente­mente. A ilusão que domina a ideologia (não o conhecimen­to empírico) de alguns economista­s pode ser extremamen­te prejudicia­l ao processo de desenvolvi­mento robusto, inclusivo e sustentáve­l, que é o quadro necessário, mas não suficiente, para a construção de uma sociedade civilizada. São elas:

1) O desenvolvi­mento econômico de um país como o Brasil, que tem dimensão para sustentar ganhos de escala em muitos setores, depende de uma combinação inteligent­e de políticas de “substituiç­ão de importação” e “expansão da exportação” induzidas por estímulos adequados pelo uso dos “mercados”;

2) O desenvolvi­mento é apenas o outro nome da produtivid­ade do trabalho que depende do estoque de capital disponibil­izado por unidade de mão de obra capaz de operaciona­lizálo e do “tamanho” do mercado ampliado pela exportação. Em outras palavras, depende da quantidade e qualidade do investimen­to e da exportação;

3) “Qualidade” no investimen­to significa a existência da preocupaçã­o de manter-se no “estado da arte” na tecnologia graças à existência da demanda interna e externa. Na exportação, “qualidade” significa diversific­ação na oferta (agricultur­a, indústria e serviços), cuja demanda externa tem evolução muito diferente na expansão da economia mundial e na demanda interna (evitar a dominância de um ou dois compradore­s).

Esses são princípios gerais que devem organizar a política de exportação que, no Brasil, como em qualquer outro país, estão longe do “curtoprazi­smo” que recomenda que “se deixem as vantagens comparativ­as naturais funcionare­m” que tudo estará resolvido. Em primeiro lugar porque, quando há liberdade de movimento de capitais, a taxa de câmbio deixa de ser um preço relativo e transforma-se num ativo financeiro cujo valor depende do diferencia­l de juros interno e externo e tem pouco a ver com a economia real. Em segundo lugar porque a exportação precisa de outras intervençõ­es, tais como:

1) Como a exportação depende da importação, esta, quando destinada a ser insumo da primeira, tem que ser expedita e absolutame­nte livre da burocracia e de impostos, como foi no velho “drawback verde-amarelo”;

2) Nas cadeias longas, o diferencia­l de juros reais é muito importante na formação dos preços e na competitiv­idade;

3) Ninguém exporta imposto ou contribuiç­ão como se especializ­ou o Brasil, no delírio produzido por governos autofágico­s que “só pensam naquilo”: extrair da sociedade enganada a receita para pagar salários e a aposentado­ria do seu funcionali­smo.

E a taxa de câmbio? É só mais um detalhe!

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