Folha de S.Paulo

Doria recua do Planalto e mira governo de SP

Prefeito admite reservadam­ente que euforia passou e argumenta que precisará do apoio de Alckmin para eleição

- THAIS BILENKY

À Folha, tucano diz que ‘não é momento de tratar do assunto’; aliado afirma que seria bom nome para Estado

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), recuou dos planos de se candidatar à Presidênci­a e hoje tem o governo paulista como possibilid­ade mais plausível para 2018.

Aliados do tucano disseram que ele reconhece que o governador Geraldo Alckmin ganhou a dianteira na disputa interna no PSDB pela candidatur­a presidenci­al.

Em seu entorno, fala-se na necessidad­e de submergir para reaparecer em um ambiente mais favorável.

Nesse sentido, Doria está determinad­o a melhorar a sua imagem, desgastada com as viagens frequentes para fora da cidade que ele governa, além dos episódios da farinata, do desentendi­mento com Alberto Goldman, hoje presidente interino do PSDB, e dos problemas de zeladoria.

Quem esteve privadamen­te com Doria nos últimos dias afirmou que o prefeito se mostra sóbrio, reconhece que a onda de euforia em seu entorno não se sustentou e que não há hoje possibilid­ade de se candidatar a presidente.

Ele demonstrou considerar determinan­te obter o apoio de Alckmin para se lançar à sua sucessão, o que não é trivial, depois do desgaste que a relação dos dois sofreu.

À Folha, o prefeito não confirmou nem negou a intenção de disputar o governo estadual. Limitou-se a dizer que “não é o momento para tratar desse assunto”.

Seus aliados dizem que ele ainda alimenta o desejo de disputar a Presidênci­a, mas tem ciência de que seria difícil conseguir legenda para isso. Ao mesmo tempo, é constantem­ente desaconsel­hado a deixar o partido e enfrentar Alckmin, que bancou sua entrada na política eleitoral, pelos danos de imagem que a atitude causaria.

Eventual eleição como governador de São Paulo seria, nessas condições, uma etapa necessária para chegar ao Palácio do Planalto. SERRA Em outra frente, interlocut­ores pressionam o prefeito paulistano a se lançar candidato a governador para desbancar o senador José Serra (SP), que já admitiu intenção de concorrer em 2018.

Serra vem dizendo a interlocut­ores que ainda pensa na Presidênci­a, mas uma eventual candidatur­a estadual toma corpo, com apoio dentro e fora do PSDB.

Em um jantar há 15 dias com quase 30 deputados estaduais de diversos partidos, o senador paulista disse estar “pessoalmen­te disposto no ano que vem, se for o caso, a disputar a eleição”.

“Não tenho claro, não há elementos para poder definir exatamente [a qual cargo]”, emendou.

Há expectativ­a no entorno do prefeito paulistano de que a convenção nacional do PSDB, marcada para o dia 9 de dezembro, seja decisiva sobre o seu destino.

Se Alckmin sair de lá mais candidato a presidente do que entrou, dizem, Doria deverá se posicionar mais claramente sobre a disputa em São Paulo, possibilid­ade que antes era rechaçada energicame­nte no seu entorno. ALCKMIN

Antes simpático a uma candidatur­a presidenci­al de Doria, Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo do Campo (SP), é um dos que adotaram outro tom. Disse que “Alckmin não tem concorrent­e” no plano nacional. “Tenho convicção de que o Geraldo se consolidou.”

Com a mudança de cenário, Morando, cujo nome chegou a ser ventilado para concorrer ao governo paulista, disse que “não tem mais razão” para se colocar na disputa e estimulou Doria.

Para o prefeito de São Bernardo, apenas Serra e Doria teriam estatura para formar um bom arco de alianças no Estado e evitar uma pulverizaç­ão “perigosa” na eleição.

“Os outros nomes colocados [Luiz Felipe d’Avila e Floriano Pesaro] são aventuras e oferecem o risco de desagregar a base aliada”, afirmou.

Auxiliares de Alckmin veem com cautela o arrefecime­nto de Doria. Dizem que seria mais um recuo estratégic­o para depois avançar e que, pelo histórico, o governador não estaria disposto a ajudar a viabilizar (nem a impedir) o prefeito como candidato à sua sucessão.

Além de não ser citado na Operação Lava Jato, o prefeito poderia usar a seu favor a proximidad­e que adquiriu com o presidente Michel Temer (PMDB), lembram aliados. Uma articulaçã­o entre PMDB, DEM e siglas do centrão poderiam isolar Alckmin no PSDB e fortalecer Doria.

 ?? Marlene Bergamo - 29.set.2017/Folhapress ?? O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que agora diz a aliados que precisa submergir e melhorar sua imagem
Marlene Bergamo - 29.set.2017/Folhapress O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que agora diz a aliados que precisa submergir e melhorar sua imagem

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil