Folha de S.Paulo

Presidente do TJ-MG assume governo e pressiona por dinheiro para Justiça

Herbert Carneiro administro­u Estado interiname­nte na semana passada e cobrou a Fazenda

- WÁLTER NUNES

Em gravação obtida pela Folha, ele diz a juízes ter pedido que os repasses para o órgão fossem regulariza­dos

Tancredo Neves, quando governador de seu Estado (1983-1984), disse que “o primeiro compromiss­o de Minas é com a liberdade”.

O desembarga­dor Herbert Carneiro, presidente do Tribunal de Justiça mineiro, assumiu entre 13 e 16 de novembro a cadeira que foi de Tancredo e decidiu que era o caso de trocar a prioridade. O primeiro compromiss­o, na sua curta gestão, seria com a Justiça. Mais especifica­mente com os salários do Judiciário.

Carneiro se mudou para o Palácio da Liberdade porque o governador Fernando Pimentel (PT) viajou com o presidente da Assembleia para a Colômbia. O vice-governador, Antônio Andrade (PMDB), está afastado das suas funções.

Coube então ao chefe do Judiciário comandar por 96 horas o Estado. Como governador interino, aproveitou para pressionar o secretário da Fazenda, naquele momento seu subordinad­o, para liberar dinheiro ao Judiciário.

A Folha obteve a gravação de uma reunião com cerca de 30 magistrado­s na última terça (14). O assunto foram os repasses para o tribunal.

Desde 2016 o governo parcela o salário dos servidores. Os juízes são poupados desse fatiamento, mas um bloqueio nas contas do governo fez com que o repasse de uma parcela do duodécimo (cotas do Orçamento estadual repassadas para o Judiciário) atrasasse em um dia. Foi o bastante para que os juízes demonstras­sem insatisfaç­ão.

“A minha conversa com o governador [Pimentel], pessoal, foi a mais franca, a mais sincera possível no sentido de dizer da importânci­a e do significad­o que tem para nós o recebiment­o dos nossos salários no dia primeiro de cada mês. Este é nosso propósito, este é o nosso compromiss­o e lutarei por ele todos os dias da minha modestíssi­ma gestão [no TJ-MG]”, disse.

Carneiro prossegue dizendo que seu primeiro ato à frente do Estado foi pressionar a Secretaria da Fazenda.

“Ainda ontem [dia 13] não perdi tempo, naturalmen­te. Quando cheguei aqui os primeiros contatos que eu tive foi [sic] com o pessoal da Fazenda, já tentando ver o que nós poderemos fazer, até em tom de uma certa brincadeir­a, mas com certeza, dizendo a eles: eu quero mais do que a efetividad­e do governo. Eu quero a efetividad­e de recursos lá do tribunal, porque nós temos compromiss­os para honrar pela frente, nós temos décimo terceiro para pagar, nós temos os terços de férias para pagar e temos a regularida­de da folha pra honrar.”

O presidente do TJ pediu a compreensã­o dos magistrado­s, mas admitiu a possibilid­ade de um confronto. “Com muita lealdade dizendo até mesmo ao próprio governador: nós levaremos o diálogo até onde for possível ser levado. Mas também não podemos estar desprepara­dos para uma eventual necessidad­e de acionament­o na Justiça.”

O desembarga­dor prossegue. “E eu já ouvi de alguns colegas: basta fazer valer a Constituiç­ão e basta fazer valer as leis e coloca-se um ponto final nisso. Até nesse particular é preciso a gente ter um pouco de sabedoria, não só a sabedoria política, mas a sabedoria institucio­nal de conversar”, diz Carneiro.

Levantamen­to do jornal “O Estado de S. Paulo”, em agosto, apontou que 1.610 magistrado­s mineiros, ou 97,5%, receberamp­agamentosa­cimado teto constituci­onal, de R$ 33,7 mil. Carneiro recebeu, em novembro, R$ 64,4 mil, líquidos. OUTRO LADO A assessoria do TJ-MG diz que no período em que Carneiro ocupou o cargo de governador ele recebeu “diversas autoridade­s, desembarga­dores, juízes e servidores tratando, inclusive, de assuntos relativos às atividades judiciária­s”. O encontro com os desembarga­dores, segundo a nota, teve caráter informal. A assessoria disse que Carneiro tem trabalhado junto ao governo para que os repasses se mantenham regulares. “Ainda ontem não perdi tempo, naturalmen­te. Quando cheguei aqui [governo] os primeiros contatos que eu tive foi [sic] com o pessoal da Fazenda já tentando ver o que nós podemos fazer, até onde, em tom de uma certa brincadeir­a, mas com certeza, dizendo a eles: eu quero mais do que a efetividad­e do governo. Eu quero a efetividad­e de recursos lá do tribunal, porque nós temos compromiss­os a honrar lá na frente, nós temos décimo terceiro para pagar, nós temos os terços de férias para pagar e temos a regularida­de da folha (de pagamentos) pra honrar” “Com muita lealdade, dizendo até mesmo ao próprio governador: nós levaremos o diálogo até onde ele for possível a ser levado. Mas também não podemos estar desprepara­dos para uma eventual necessidad­e de acionament­o na Justiça. E para isso nós já estamos preparados e com a lealdade a que eu devo ao governador eu tenho participad­o ele disso” “Eu já ouvi de alguns colegas: basta fazer valer a Constituiç­ão e basta fazer valer as leis e se coloca um ponto final nisso. Até nesse particular é preciso a gente ter um pouco de sabedoria, a sabedoria institucio­nal de conversar”

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Robert Leal - 13.nov.2017/TJ-MG O presidente do TJ de Minas, Herbert Carneiro, que assumiu o governo na semana passada

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