Folha de S.Paulo

Press Thomas Manase, 23, desemprega­do recém-formado no ensino superior.

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O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, 93, apresentou nesta terça-feira (21) sua renúncia à Presidênci­a do país, dando fim a um dos regimes autoritári­os mais longevos da história da África póscolonia­l —foram 37 anos.

A saída aconteceu depois de uma semana de levante militar, provocado pela decisão do agora ex-mandatário de depor seu vice, Emmerson Mnangagwa, 75, para favorecer sua mulher, Grace, 52, no que seria sua futura sucessão.

A comunicaçã­o da renúncia foi feita por meio de carta ao Parlamento, um dia após a Casa dominada pelo partido que criou, a União Nacional Africana Zimbabuana (Zanu-PF), decidir abrir processo de impeachmen­t contra Mugabe.

“Minha decisão de renunciar é voluntária e vem da minha preocupaçã­o com o bemestar do povo do Zimbábue. Meu desejo é de uma transferên­cia de poder tranquila e não violenta”, diz, na carta.

Coube ao presidente do Parlamento, Jacob Mudenda, dar a notícia na sessão que abriria o julgamento político. Na sequência, o impeachmen­t foi cancelado, e parte dos deputados dançou para comemorar a queda.

Mudenda afirmou que o Parlamento agora vai concluir o procedimen­to legal necessário para a transição e disse esperar que o novo governo assuma o país até a quarta-feira (22).

A expectativ­a é que Mnangagwa, apoiado pelos militares, tome o lugar de Mugabe, que não indicou um sucessor em sua carta. O secretário jurídico do Zanu-PF, Patrick Chinamasa, disse à Reuters que ele deve ser empossado nas próximas 48 horas, quando chegar ao país.

Um outro membro da legenda entrevista­do pela agência de notícias informou que o vice completará o atual mandato do ditador, que terminaria em setembro de 2018 —data para a qual estão marcadas eleições.

Em nota divulgada antes de Mugabe ceder o poder, Mnangagwa afirmou que todos os zimbabuano­s devem trabalhar juntos para que o país avance. “A nação não deveria nunca mais ficar refém de uma pessoa, cujo desejo é morrer no cargo custe o que custar para a nação.”

A renúncia foi celebrada com festa na capital do país, Harare. Durante toda a noite, moradores da cidade buzinavam e dançavam, em uma manifestaç­ão que seria improvável durante o regime.

“Essa mudança veio tarde. Tomara que ela traga mais empregos”, disse à Associated TRANSIÇÃO Com 93 anos, o ditador foi afastado do comando do país no dia 15, quando os militares detiveram-no, junto com a primeira-dama, Grace.

A partir de então, ele passou a ser pressionad­o pelos militares e antigos aliados, incluindo o próprio Mnangagwa, a apresentar sua renúncia, o que tinha se negado a fazer até esta terça.

O Zanu-PF destituiu Mugabe da presidênci­a da sigla no domingo (19) e deu até segunda (20) para que ele se afastasse do comando do país. Com sua recusa em pronunciam­ento, foi deslanchad­o o processo de impeachmen­t.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, comemorou a renúncia e disse que o ato permite ao Zimbábue “abrir um caminho livre da opressão”.

O país foi uma colônia do Reino Unido até a independên­cia oficial, em 1980.

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Jekesai Njikizana/AFP Integrante do Parlamento do Zimbábue remove retrato do ditador Robert Mugabe logo após a leitura de sua carta de renúncia, nesta terça-feira (21)

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