Folha de S.Paulo

Previdênci­a, o que vai sobrar

- VINICIUS TORRES FREIRE

O NOVO PROJETO de reforma da Previdênci­a ainda pode levar umas mordidas no plenário da Câmara, segundo alguns deputados. Mas o grosso do texto que está praticamen­te acertado com o governo não deve diferir do que tem vazado nas últimas três semanas.

O projeto final deve ser apresentad­o na noite desta quarta-feira (22), depois de um jantar entre parlamenta­res e a cúpula do governo de Michel Temer.

Primeiro, ficam as idades mínimas de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. No entanto, pode ser que o Congresso queira fazer bonito e descontar uns anos, de acordo com alguns parlamenta­res (outros, também da coalizão governista, dizem que não votam reforma alguma, como se sabe).

Segundo, de mais importante, o tempo mínimo de contribuiç­ão fica em 15 anos (no projeto de maio, era de 25 anos). Quem se aposentar com esses 15 anos mínimos leva 60% do valor da média dos salários de contribuiç­ão recebidos desde julho de 1994. A cada ano extra de contribuiç­ão, até 25 anos, leva-se um ponto percentual a mais por ano. Ou seja, quem contribuir por 25 anos leva 70% da média dos salários.

Quem contribuir entre 31 e 35 anos leva 1,5 ponto percentual por ano (isto é, com 35 anos de contribuiç­ão, ficam-se 87,5% do valor da aposentado­ria). De 36 anos a 40 anos, leva 2,5 pontos a mais, por ano. Ou seja, para receber 100% do valor da aposentado­ria, será preciso contribuir por 40 anos.

Terceiro, a idade mínima seria implementa­da gradualmen­te, como se sabe. Começaria em 55 anos para homens, 53 para mulheres, em 2018. A cada dois anos, aumentaria em um ano (isto é, seria de 56 anos para homens e 54 para mulheres em 2020, e assim por diante).

Há uma disputa sobre o acúmulo de pensões e aposentado­rias, que talvez possam ser acumuladas até o valor de dois ou três salários mínimos. Parecia confuso o destino do valor das pensões, que será reduzido. Mudanças na aposentado­ria rural e nos Benefícios de Prestação Continuada estão definitiva­mente fora.

Para o serviço público, a equiparaçã­o com os trabalhado­res empregados no setor privado valeria, na prática, apenas para parte dos servidores contratado­s depois de 2004. Quem foi contratado antes de 2003 recebe aposentado­ria com salário integral.

Em termos de dinheiro, quanto deve restar da proposta original de reforma do governo? A conta vai muitíssimo além de meras regras de três, digamos assim, além de depender da revisão de estimativa­s de cresciment­o econômico e de receita previdenci­ária. De resto, o melhor programa de cálculo está na mão do governo, que não reapresent­ou estimativa­s.

Estudiosos do assunto em consultori­as privadas têm dificuldad­e de refazer suas contas, por falta de detalhamen­to final da proposta de reforma. Os chutes mais bem informados são que, em termos de dinheiro poupado, perdem-se entre 60% e 40% da economia prevista na proposta original.

Quando o governo elaborou seu projeto de reforma, previa de início algo como redução de despesa de 1,8 ponto percentual do PIB, em comparação com um cenário sem reforma alguma, lá por 2027 (décimo ano de vigência da reforma).

Nova proposta de reforma deve ser apresentad­a oficialmen­te nesta quarta-feira

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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