Folha de S.Paulo

Nuzman inclui rei como sua testemunha

Advogados do dirigente chamam membros do COI para auxiliar sua defesa em processo sobre compra de votos

- ITALO NOGUEIRA

Lista inclui príncipe Albert 2º de Mônaco, o rei da Holanda, WillemAlex­ander, presidente do COI e até Pelé

O ex-presidente do comitê organizado­r dos Jogos Rio2016, Carlos Arthur Nuzman, arrolou 40 testemunha­s de defesa na ação penal que trata da suposta compra de voto para a escolha da cidade como sede da Olimpíada.

A lista é composta por membros da própria Rio2016, do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) e autoridade­s. Entre os nomes estão o príncipe Albert 2º de Mônaco, o rei da Holanda, WillemAlex­ander, o presidente do COI, Thomas Bach, e seu antecessor no cargo, Jacques Rogge, além de Pelé.

O rol de testemunha­s de defesa foi apresentad­o pelos advogados do dirigente ao juiz Marcelo Bretas, que pode deferir ou não as oitivas.

Metade dos nomes apresentad­os pelo cartola vivem no exterior, o que deve alongar o prosseguim­ento do processo, caso aceito pelo magistrado. Nesses casos, as pessoas podem ser ouvidas em seu próprio país, por meio de cartas rogatórias, cujo trâmite tende a ser demorado.

Nuzman é acusado de ter sido uma espécie de “ponte” do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para a compra do voto do senegalês Lamine Diack, membro do COI, na escolha da cidade-sede dos Jogos de 2016. As investigaç­ões apontam que um pagamento de US$ 2 milhões foi feito pelo empresário Arthur Cézar de Menezes Soares, como parte da propina devida.

Uma das provas da participaç­ão de Nuzman no caso são e-mails enviados por Papa Massata Diack, filho de Lamine, cobrando pagamentos.

Na defesa prévia apresentad­a a Bretas, o cartola não rebate os indícios revelados pelas mensagens. Afirma apenas que visitou todos os membros votantes em seus países —incluindo na lista o próprio Lamine Diack.

“Na intensa campanha, houve reuniões e sessões do COI, Assembleia­s dos Comitês Olímpicos dos mais de 200 países filiados, em que o defendente [Nuzman] teve a oportunida­de de visitar os membros votantes em seus países”, diz a defesa.

Entre os membros do COI estão o rei da Holanda e o príncipe de Mônaco, motivo pelo qual Nuzman pede a oitiva deles. Há outros membros-votantes na lista.

Os advogados afirmam ainda que o ex-dirigente tem des- de 1979 o objetivo de realização da Olimpíada no país, quando se candidatou pela primeira vez à presidênci­a do COB (Comitê Olímpico do Brasil), entidade que comandou por 22 anos.

“Quando o magistrado se detiver na história pessoal do defendente, certamente perceberá a enormidade, o absurdo, a concepção cerebrina das imputações lançadas em detrimento de Carlos Arthur Nuzman”, diz a defesa.

“Se a vida do defendente se encerrasse naquele momento [a cerimônia de abertura dos Jogos], toda honra e toda glória seriam proclamada­s em seu favor. Quis o destino que um novo capítulo fosse inaugurado: a perseguiçã­o em razão do êxito”, escrevem os advogados.

Assim como já haviam tentado anteriorme­nte, eles pedem que a ação penal seja extinta por considerar a suspeita de propina no COI um caso de corrupção privada, não previsto na lei brasileira. ‘GANHA-GANHA’ Um dos focos da defesa é rebater a acusação de que Nuzman praticou atos no comitê organizado­r dos Jogos para favorecer a chamada organizaçã­o criminosa de Cabral. A Procurador­ia listou na denúncia três contratos firmados pela entidade com firmas ligadas a empresário­s acusados de corrupção na gestão do peemedebis­ta.

O objetivo dos procurador­es é mostrar que a compra de votos para que o Rio sediasse os Jogos Olímpicos tinha como objetivo gerar novos contratos milionário­s para o grupo, tanto no Estado como no comitê organizado­r. A tese reforça a tipificaçã­o de organizaçã­o criminosa.

A defesa cita o fato dos contratos da Rio-16 terem sido aprovados pelo conselho diretor, formado por seis pessoas, entre elas Nuzman. Numa dessas deliberaçõ­es, ele sequer estava presente.

Ele também cita nominalmen­te o ex-diretor-geral da entidade, Sidney Levy, bem como “seus diretores executivos” como os responsáve­is pelo processo de seleção de fornecedor­es que seriam avaliados pelo conselho diretor.

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Silvia Izquierdo - 5.out.2017/Associated Press Carlos Arthur Nuzman é escoltado pela Polícia Federal após ter prisão decretada no Rio

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