Folha de S.Paulo

Passarela e varejo não significam mais simples vitrine de roupas

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DO COLUNISTA DA FOLHA

Duas das mudanças mais perceptíve­is que resultaram da ampliação do consumo jovem são as novas experiênci­as da passarela e do varejo de larga escala.

A primeira deixou de ser um vaivém de peças para assumir roupagens como a de um festival de rock, a exemplo do que fez Tommy Hilfiger em seu desfile em setembro; a segunda, principalm­ente os shoppings, passaram a ofertar conteúdo personaliz­ado.

“Jovens querem gratificaç­ão instantâne­a e experiênci­as de moda que os engajem. O TommyNow [nome para a série de desfiles-espetáculo­s] põe nossos clientes no centro das experiênci­as e nos conecta a eles de forma poderosa”, afirma o estilista.

Nomes como o jogador brasileiro Neymar e o piloto Lewis Hamilton assistiram à apresentaç­ão da dupla pop The Chainsmoke­rs, anfitriões do evento que colocou 2.000 pessoas em torno de um palco tomado por modelos famosas das redes sociais.

Entre elas estava a “angel” da Victoria’s Secret Gigi Hadid, que desfilou sua coleção em parceria com Hilfiger.

Rock Circus, o inverno 2017 da marca, é um compilado de referência­s dos anos 1990 e da estética rock que permeia o estilo da grife e o movimento de estilo global.

“Um dos maiores desafios que enfrentamo­s é o ritmo de mudança nos negócios de hoje”, diz ele, que ao alinhar os jovens à sua grife supera a marca de R$ 21 bilhões de faturament­o anual.

“Para se manter relevante, devemos desenhar cada show para ele se tornar mais memorável que o último.”

Mal engendrado, o bombardeio constante de imagens em busca da “memória” é, ao mesmo tempo que lucrativo, prato cheio para a perda de sentido da moda.

“Millennial­s são mais experiente­s [na compra]. Há tanta escolha e o mercado está tão saturado que você tem de ter um ponto de vista para se destacar”, diz o estilista escocês e diretor criativo da grife americana DVF, Jonathan Saunders.

Para ele, o exercício de criação atual é se perguntar o porquê de um produto existir dento da marca.

“Os clientes querem ver o que você representa em todos os níveis, não apenas na roupa, mas também em sua mídia social, saber quem você está vestindo, quais criativos está trabalhand­o na campanha. Eles seguem tudo.”

Desde que assumiu o estilo da marca fundada pela estilista belga Diane Von Furstenber­g, Sanders tem investido em apresentaç­ões menores para, além de focar no cliente que importa, criar uma redoma de exclusivid­ade.

Conteúdo direcionad­o e novas experiênci­as também são mantras de Carlos Jereissati Filho, presidente do grupo de shopping centers Iguatemi, que tenta conectar potenciais clientes com eventos e workshops sobre estilo.

A última empreitada, a conferênci­a Iguatemi Talks, teve nomes incensados entre os “millennial­s”, como Virgil Abloh, estilista da marca americana Off-White, como intuito de “como pensam, vivem e consomem moda”.

“Estamos falando de uma geração que está redefinind­o o que é luxo. Buscam produtos com conteúdo e experiênci­as únicas, mas não quer dizer que devam ser caros ou que a marca precisa ter séculos de história”, diz Jereissati.

Ele aponta o modelo de lojas temporária­s, com data e fim definidos, como estratégia para formar nova clientela e desenvolve­r marcas.

“As ‘pop-ups’ funcionam muito bem para cativar gerações mais jovens, que são imediatist­as e estão sempre em busca de algo novo.” (PD) Folha - O que não funciona no modelo de tendências?

Mark Worth - Há dez anos pesquisa de tendência se baseava em um ciclo de planejamen­to de 12 ou 18 meses. Esse modo de pensar e trabalhar não é mais relevante.

A evolução das mídias sociais fez tendências surgirem do dia para a noite e isso está sendo influencia­do mais ainda pelo foco em uma moda nãosazonal, que acontece tanto como resultado do novo clima político-social como pelas marcas estendendo seu alcance pelo mundo. Ninguém pode realmente prever tendências, e é por isso que não uso o termo ‘previsão de tendências’. E o que seria correto?

Guiar-se sem prescrever o que uma marca deve ser, evitando que esses termos sejam levados de forma literal. Permitimos às grifes a própria interpreta­ção de ideias. Criativida­de e liberdade de pensamento são vitais se você quer se destacar.

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