Folha de S.Paulo

A tragédia do Rio

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BRASÍLIA - Na noite de terça, Anthony Garotinho festejou a prisão de três deputados do PMDB do Rio. “Ainda não terminou a faxina. Faltam outros setores que foram altamente envolvidos com essa safadeza toda”, disse. Na manhã seguinte, chegaria a sua vez. Ele e a mulher, Rosinha, foram recolhidos por um camburão da Polícia Federal.

Com o casal, o Rio passa a ter três ex-governador­es na cadeia. Também estão em cana os últimos três presidente­s da Assembleia Legislativ­a. Recordista em tudo, Sérgio Cabral encabeça as duas trincas. Sua coleção de joias se tornou um símbolo da roubalheir­a que depenou o Estado.

O centro de poder da antiga capital se deslocou do Palácio Guanabara, em Laranjeira­s, para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. Lá voltaram a se encontrar aliados que viraram desafetos, como Garotinho e o deputado Jorge Picciani.

O poderoso chefão do PMDB do Rio é um caso à parte. De dentro da cela, ele comandou uma rebelião da Assembleia contra a Justiça. Os deputados revogaram sua prisão e mandaram um carro oficial para buscá-lo, sem alvará de soltura.

O juiz Paulo Espírito Santo comparou a operação a um resgate de filme de faroeste. A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, disse que o Rio virou uma “terra sem lei”. Há dois dias, o Tribunal Regional Federal determinou que Picciani voltasse à cadeia. Incorrigív­el, ele se entregou à polícia a bordo de um Porsche.

Muitos cariocas têm comemorado as prisões como o início da salvação do Estado. Pode ser, mas elas também simbolizam uma tragédia. Há pouco mais de um ano, o Rio se gabava de sediar uma Olimpíada. Hoje a população sofre com a violência fora de controle e o fechamento de restaurant­es populares e biblioteca­s.

O atual governador, Luiz Fernando Pezão, é aliado e herdeiro político de Cabral. Ele já foi cassado por irregulari­dades na campanha, mas se equilibra há seis meses num recurso ao Tribunal Superior Eleitoral.

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