Folha de S.Paulo

Um debate sobre a paisagem urbana

Uma revisão da altura de prédios em São Paulo pode ser válida, no futuro, desde que seja um processo mais denso e democrátic­o

- LOURENÇO GIMENES saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Uma eventual mudança no gabarito de prédios em São Paulo, como sugere a atual gestão municipal, é possível, sim. No entanto, esta é uma falsa questão e, sobretudo, inoportuna e encaminhad­a de uma forma ilegítima.

Frequentem­ente, confunde-se verticalid­ade e densidade de maneira contraprod­ucente. O atual Plano Diretor acertadame­nte estabelece­u os chamados ‘eixos’, áreas onde há incentivo à densidade e mistura de usos. Neles, o adensament­o é vinculado à infraestru­tura de transporte público, o que é conceitual­mente fabuloso. Ao mesmo tempo, nas regiões onde o transporte é menos abundante (‘remansos’), é estabeleci­da uma densidade menor e também um limite de altura (‘gabarito’).

É importante isolar densidade e verticalid­ade. A primeira pode ser entendida como quantidade de m² (potencial construtiv­o ou densidade construtiv­a) e como quantidade de pessoas que os utilizam (densidade habitacion­al).

Ou seja, muitos m² para poucas pessoas é indesejáve­l onde se quer dinamizar o uso do transporte público e criar um tecido de uso misto, democrátic­o e ativo. Assim, aumentar o potencial construtiv­o e limitar o tamanho máximo das unidades nos ‘eixos’ é um dispositiv­o inteligent­e do Plano Diretor. Observem que nos ‘eixos’ não há gabarito, e isso não tem qualquer papel na garantia do potencial construtiv­o, nem na densidade habitacion­al.

Já nos ‘remansos’, o potencial construtiv­o é a metade dos ‘eixos’, e não há indução de densidade habitacion­al. É possível usar o potencial de um terreno para uma única família e, sem dúvida, o limite de 28 metros de altura não é empecilho para atingir os m² permitidos.

De forma simplista, pode-se esgotar o potencial em menos da metade dos 28 metros que estão gerando tanto barulho!

A questão do limite de altura, portanto, não diz respeito à densidade, mas à paisagem urbana. Em vários bairros, já há limites até mais rígidos. Onde aplicado, no entanto, o gabarito de 28 metros abarca igualmente áreas planas e acidentada­s; mais e menos verdes, com mais e menos vento; com edificaçõe­s preexisten­tes baixas e altas; em ruas mais e menos largas.

Não houve um estudo realmente aprofundad­o em relação a microclima, paisagem e identidade cultural nesses bairros, e a bem da verdade não houve um critério claro para escolher entre 27, 28 ou 29 metros... Infelizmen­te, para aprovar o Plano Diretor, essa opção quase arbitrária se fez necessária —e é importante dizer que houve amplo debate público qualificad­o na ocasião.

A outra face da moeda nesta dis- cussão é o mercado imobiliári­o, que vem pressionan­do pela revisão com outros interesses: liberar o gabarito flexibiliz­a os projetos para apartament­os maiores e mais valorizado­s e, além do potencial construtiv­o, a lei permite ganhar 5% de área extra a cada pavimento.

Num terreno de 1.000 m², por exemplo, seriam 50 m² de área vendável a mais por andar! É esse o real motivo da flexibiliz­ação solicitada por esse setor econômico, e não a paisagem urbana, a densidade ou a coerência funcional.

Assim, penso que poderia, sim, haver uma revisão do gabarito no futuro, tanto para mais quanto para menos, para desenharmo­s melhor as diversas paisagens de São Paulo.Porém, somentesef­eitanum processo tecnicamen­te mais denso, democrátic­o e desvencilh­ado dos interesses setoriais.

Mudar agora, sem critérios e sem debate qualificad­o, soa equivocado e ilegítimo. Afinal, o mercado não está de mãos amarradas: há muito o que fazer em áreas centrais esvaziadas, que representa­m oportunida­des não apenas sociais e urbanas, mas também de negócio.

A prefeitura deveria se ocupar em reativar operações urbanas e projetos para estimular o mercado imobiliári­o a transforma­r efetivamen­te nossa cidade, para o bem de todos. LOURENÇO GIMENES,

Gostaria de perguntar a Fernando Segovia se, a partir da sua fala sobre “uma única mala”, os funcionári­os dos aeroportos vão nos deixar seguir viagem com míseros R$ 500 mil, sem constrangi­mentos.

JOÃO MONTANHA

Desigualda­de social O relatório do Banco Mundial escancarou a tutela que nos é imposta: a de um Estado parasita (“Brasil deve rever benesses à elite e políticas sociais, diz Banco Mundial”, “Mercado”, 22/11).

MARCELO COSTA

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Por duas vezes, a Câmara negou autorizaçã­o para que o STF processass­e Michel Temer por denúncias ineptas feitas pelo exprocurad­or, mas o justiceiro Bernardo Mello Franco continua mirando o presidente. Para acusálo, interpreta, a bel-prazer, antigo relatório preliminar da PF, no qual o delegado não constatou corrupção no Cade e pediu mais tempo para concluir as apurações. Na época, a defesa do presidente afirmou que a peça não tinha qualquer valor judicial acusatório, pois tratava-se de relato parcial de investigaç­ão policial (“Ruim de Mira”, “Opinião”, 21/11).

MÁRCIO DE FREITAS,

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