Folha de S.Paulo

Ex-assessor promete prova de que parte de salário ia para Geddel

Job Ribeiro afirma que repassava parte de seus ganhos como assessor na Câmara ao ex-ministro e parentes

- CAMILA MATTOSO LETÍCIA CASADO

Segundo advogado, extratos revelam um padrão de saques nas horas seguintes ao depósito dos salários

Um dos ex-assessores da família do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Job Ribeiro pretende entregar à Polícia Federal e à PGR (Procurador­iaGeral da República) extratos para provar que devolvia parte de seu salário da Câmara para os políticos.

Em prisão domiciliar desde o fim de outubro, o auxiliar encontrou alguns registros de transferên­cias bancárias que fez ao longo dos últimos cinco anos em nome de parentes de Geddel.

Procurado pela Folha, o advogado de Job, Marcelo Ferreira, confirmou a pretensão de apresentar os documentos e disse que, além da movimentaç­ão entre contas, os registros mostram um “modus operandi” do que acontecia mensalment­e.

Segundo Ferreira, os extratos revelam que havia um padrão de saques nas horas seguintes do depósito do salário a cada mês.

Em depoimento à PF, no dia 14 de novembro, Ribeiro disse que ficava com cerca de R$ 2.500 por mês e devolvia cerca de R$ 9.000 para a família dos políticos durante todo o período que trabalhou na Câmara dos Deputados.

Ele disse que prestou serviços à família por 28 anos e, apesar de exercer o cargo de assessor parlamenta­r, fazia serviços pessoais para os irmãos —como ir ao supermerca­do, cuidar de fazendas e da saúde do pai de Geddel.

O ex-assessor disse que trabalhou com Geddel entre fevereiro de 1991 e março de 2007, quando o peemedebis­ta assumiu o Ministério da Integração Nacional no governo Lula. Job passou então a trabalhar como assessor do suplente, Edgar Mão Branca, até março de 2010.

Em abril daquele ano, já no governo Dilma, Geddel voltou para o Congresso, e Job passou a ser novamente seu assessor parlamenta­r, até janeiro de 2011, quando passou a trabalhar com Lúcio e ficou no cargo até outubro de 2017. Ele disse que foi apenas uma vez a Brasília durante o período em que ocupou o cargo.

Job negocia com a PGR uma delação premiada. De acordo com apuração da reportagem, o depoimento do ex-funcionári­o da família convenceu procurador­es e delegados, que viram uma situação de exploração.

O ex-auxiliar afirmou à PF que destruiu documentos a pedido dos peemedebis­tas, no período em que Geddel cumpria prisão domiciliar, em julho deste ano —na primeira prisão, quando foi acusado de tentar obstruir à Justiça. PRISÃO Job teve a prisão decretada após a PF identifica­r fragmentos de suas digitais no “bunker” em Salvador (BA) em que foram encontrado­s mais de R$ 51 milhões atribuídos a Geddel.

O ex-ministro teve a segunda prisão decretada, após a descoberta da polícia, e está no presídio da Papuda (DF) desde o início de setembro.

Assim que o STF decidiu pela prisão domiciliar de Job, o deputado Lúcio Vieira Lima decidiu exonerá-lo do cargo.

A defesa da família Vieira Lima afirmou que irá se pronunciar somente após ter acesso ao depoimento—os advogados fizeram o pedido no início desta semana.

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Pedro Ladeira - 8.set.2017/Folhapress O ex-ministro Geddel Vieira Lima chega ao hangar da PF em Brasília após ser preso

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