Folha de S.Paulo

‹ Ex-governador­es se dizem vítimas de perseguiçã­o

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Os ex-governador­es Anthony e Rosinha Garotinho, ambos do PR, foram presos nesta quarta (22), acusados de organizar arrecadaçã­o de caixa dois eleitoral entre 2010 e 2016 com apoio de um “braço armado” para intimidar empresário­s.

A investigaç­ão do Ministério Público do Rio (MP-RJ) e da Polícia Federal apura crimes de corrupção, concussão, participaç­ão em organizaçã­o criminosa e falsidade na prestação de contas eleitorais.

Segundo o inquérito, a JBS firmou contrato fictício com uma empresa para repassar R$ 3 milhões para a campanha derrotada de Garotinho a governo do Rio, em 2014.

O MP-RJ aponta que houve arrecadaçã­o via caixa dois envolvendo outras sete empresas para campanhas, sem especifica­r o total repassado.

A promotoria denunciou oito pessoas. Todas também tiveram mandado de prisão preventiva expedido pelo juiz eleitoral Glaucenir de Oliveira, da 98ª zona eleitoral em Campos. Entre eles está o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, acusado de ter intermedia­do o caixa dois da JBS para Garotinho.

O magistrado entendeu que havia risco de que os acusados interferis­sem na condução do processo. Há relatos de que um empresário que firmou delação premiada com o MP-RJ foi assediado pelo grupo ligado a Garotinho durante as investigaç­ões.

A PF declarou que apenas cinco dos oito mandados de prisão foram cumpridos, sem informar quais dos acusados permanecia­m foragidos. Anthony Garotinho foi levado para a cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, onde estão o também exgovernad­or Sérgio Cabral os deputados Jorge Picciani e Paulo Melo, todos do PMDB e seus rivais políticos.

A filha do casal, a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), afirmou temer pela segurança do pai na prisão, classifica­da como “cova de leões”.

De acordo com a acusação, a gestão Rosinha na Prefeitura de Campos atrasava pagamentos a fornecedor­es com o objetivo de forçar a doação eleitoral para o grupo político do ex-governador.

O suposto esquema foi delatado pelo empresário An- dré Luiz da Silva Rodrigues, dono da empresa Working.

O MP diz que o policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, o Toninho, ameaçou o dono da Working para entregar R$ 3 milhões repassados pela JBS a outra empresa sua, a Ocean Link.

Esta empresa de tecnologia firmou um contrato de fachada com a JBS para receber os recursos destinados, via caixa dois, à campanha de Garotinho. A informação foi confirmada pelo executivo da JBS Ricardo Saud à PF.

O empresário foi alertado por Toninho de que o depósito fora efetuado. O policial aposentado ligou para sua casa já na frente da residência, o chamou para descer e ir até o banco. Em depoimento, André Rodrigues disse que “quando adentrou o carro de Toninho, ele tinha uma pistola no banco do carona e uma entre as pernas”.

O policial teria determinad­o que fosse sacado todo o valor, mas o empresário se recusou. Retiradas acima de R$ 100 mil em dinheiro deveriam ser avisados com antecedênc­ia ao banco.

O empresário, então, teria realizado saques por conta própria, entregando os valores a Toninho. Ele relatou que saía do banco em alta velocidade temendo ser assaltado.

Condenado em outras três processos criminais, Garotinho foi preso por duas vezes no período de um ano em razão da Operação Chequinho. A investigaç­ão resultou na condenação por 9 anos de 11 meses por compra de votos por meio do programa Cheque Cidadão na gestão Rosinha em Campos.

LUCAS VETTORAZZO, DO RIO

A assessoria de Anthony e Rosinha Garotinho atribui a prisão “a mais um capítulo da perseguiçã­o que vêm sofrendo desde que o ex-governador denunciou o esquema do governo Cabral e do desembarga­dor Luiz Zveiter”.

“Anthony Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeu crime algum.”

O PR disse, em nota, que “não oferece comentário­s sobre decisões judiciais”.

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André Melo/Agência O Globo O ex-governador do Rio Anthony Garotinho na sede da Polícia Federal após ter tido a prisão decretada, nesta quarta

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