Colunistas debatem democracia e autoritarismo
Luiz Felipe Pondé e Fernando Schüler discutiram desafios do sistema representativo
“A ideia de que mais democracia resolverá os problemas da democracia é uma ilusão.”
Assim, com seu habitual tom provocador, Luiz Felipe Pondé iniciou uma discussão a respeito da crise nas sociedades democráticas.
Na terça (21), ele dividiu o palco do auditório da Livraria da Vila, em São Paulo, com Fernando Schüler —ambos são colunistas da Folha .A mediação foi de Uirá Machado, editor da “Ilustríssima”.
Para Pondé, é necessário tomar consciência de que um mal-estar ronda a democracia. Segundo ele, percebe-se cada vez mais o risco de viés totalitário no sistema democrático.
Como exemplo, citou o que considera “uma excessiva judicialização da vida”. “Há uma tendência de a democracia se transformar num regime judicial —com o propósito de construir uma sociedade melhor a partir do aparelho jurídico”, disse.
Outros indícios desse malestar estariam nos linchamentos virtuais nas redes sociais.
Em sua fala, o cientista político e professor do Insper Fernando Schüler explicou que a democracia surgiu como solução para uma sociedade fraturada, como forma de proteger as liberdades individuais.
“Numa grande sociedade, só é possível viver por meio dessas regras que chamamos de democracia liberal.”
Segundo Schüler, uma mudança ocorreu com o advento da internet, quando o mundo tornou-se uma aldeia global hiperconectada. A grande sociedade cedeu lugar ao modelo de grande comunidade.
“Aí o saudável fracionamento se quebra. Passamos a exigir dos outros mais do que um acordo básico de convivência —passamos a exigir um regramento das ideias éticas, estéticas e morais.”
Schüler argumenta que grupos aparentemente opostos, como conservadores e progressistas, caem no mesmo vício: levar o debate público para o campo da ética, no qual não é possível acordo.
“O resultado é esse clima de guerra, de ódio entre nós”, completou. “Substituímos o debate sobre os temas que devemos discutir pelo debate em que não há consenso.”
Diante desse impasse, não há solução fácil. “A minha utopia, digamos assim, é que, do ponto de vista institucional, as posições de centro, antiutópicas e não metafísicas, possam prevalecer”, diz Pondé.