Incerteza e falta de pista confundem buscas por submarino argentino
Marinha cita anomalia hidroacústica no dia 15 em local de último contato, mas diz não ter rastro
Equipes são enviadas à região, já vasculhada; oficial brasileiro diz ser prematuro afirmar que oxigênio já acabou
O porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, informou nesta quarta-feira (22) que a força detectou uma “anomalia hidroacústica” perto da área onde o submarino ARA San Juan fez o último contato antes de desaparecer, no último dia 15.
Segundo o militar, o ruído foi registrado às 11h do último dia 15 (10h em Brasília) a 30 milhas náuticas (55,6 km) ao norte do último contato feito por satélite pela tripulação, pouco mais de três horas antes. Balbi, porém, declarou não ter certeza de que se trate do submarino.
“Ainda nesta noite [de quarta], partem para o local dois navios da Marinha argentina e aviões de países que estão colaborando”, disse.
Entre as forças estão um navio da Marinha do Chile, duas aeronaves militares dos EUA e uma do Brasil, além do auxílio de uma embarcação da petroleira francesa Total.
A área, porém, corresponde a um lugar já rastreado nos últimos dias, onde não se encontrou nada. “Isso não significa que tenhamos eliminado outros cenários, mas vamos nos concentrar nesse novo indício, que nos parece relevante”, disse o porta-voz.
O militar reforçou que os trabalhos estão sendo feitos com a maior rapidez possível devido às boas condições climáticas, que tendem a piorar nesta quinta (23). A previsão é que a Marinha argentina divulgue novas informações na manhã desta quinta.
Pela manhã, Balbi havia admitido que não havia “nenhum rastro” do submarino e descartado três supostos indícios da embarcação.
Os últimos haviam sido a detecção de sinalizadores de emergência pelo navio britânico Protector —não eram do submarino— e uma mancha de calor localizada por um avião da Marinha dos EUA a 70 metros de profundidade.
Ele acrescentou que, na hipótese de o submarino estar na superfície, não há preocupação com a questão de oxigênio. Porém, “se estiver submerso, entramos numa fase crítica, porque já é o sétimo dia, e a autonomia da embarcação em termos de oxigênio passa a ser um problema”.
O ARA San Juan saiu de Ushuaia, no extremo sul do país, e estava em um exercício de vigilância. A embarcação com 44 tripulantes voltava à base em Mar del Plata, ao norte, quando a comunicação foi interrompida. BRASIL Além de Reino Unido, Brasil e EUA, participam das buscas equipes de Chile e Uruguai. Nesta quarta, o capitão de fragata da Marinha brasileira Leonardo Braga Martins, que comanda o submarino S-32 Timbira, disse que é cedo para dizer se o ARA San Juan ficou sem oxigênio.
“O submarino é um equipamento projetado para ficar oculto, daí a dificuldade de rastreamento. Não é possível afirmar qual é o percentual de chance de salvamento neste momento, mas a esperança permanece. São muitas variáveis envolvidas.”
Em entrevista na ilha de Mocanguê, em Niterói (RJ), que abriga o Comando da Força de Submarinos, Martins afirmou que há diversos mecanismos que garantem oxigênio à embarcação. Um deles são tanques de emergência, usados em caso de incêndio a bordo, por exemplo.
Segundo o oficial, há uma tubulação em que a tripulação pode conectar máscaras. Outra possibilidade é reduzir sensivelmente as operações humanas para diminuir o consumo do gás a bordo.
Caso a embarcação possa subir à superfície, é capaz de renovar o ar por captação ou, se a estiver a até 15 metros de profundidade, alçar as “velas de oxigênio” —similares ao snorkel de mergulho.
A quarta alternativa é um procedimento químico, usando compostos que, em reação com outros agentes, produzam gás oxigênio para renovar o ar no submarino.
No momento em que a embarcação for localizada, afirma Martins, é possível enviar suprimentos de ar por meio de “cápsulas”, pequenos submarinos. Há também mecanismos que podem ser usados para tentar alçar o submarino à superfície.
Um deles é encher de ar os tanques de lastro, normalmente preenchidos com água, para que ele flutue. Esse mecanismo é acionado manualmente, e a Marinha brasileira ainda não tem informações sobre o motivo pelo qual ele ainda não foi usado.
Outra forma é retirar os tripulantes em trajes especiais, como um escafandro moderno, inundando parte do submarino e expelindo-os com a gravidade. Para isso, porém, a embarcação deve estar a até 150 metros de profundidade. EQUIPAMENTOS DE EMERGÊNCIA DO SUBMARINO Dois compartimentos estanques, que permitem sobrevivência por sete dias em um deles se o outro estiver comprometido Sistema que enche os compartimentos de lastro com ar rapidamente para que o submarino suba à superfície Escotilha de mergulho, pela qual a tripulação pode abandonar o submarino, e dois botes de emergência