Folha de S.Paulo

ANÁLISE Veredicto reaviva esperança na hoje combalida cooperação internacio­nal

- CLÓVIS ROSSI MONTENEGRO

FOLHA

A condenação à prisão perpétua de Ratko Mladic resgata uma ponta de esperança na hoje combalida cooperação internacio­nal e na predominân­cia de um sentimento de horror ante a desumanida­de.

Mladic comandou o Exército sérvio-bósnio na República Srpska (República Sérvia) durante o conflito dos Bálcãs (1992-95). Mais precisamen­te, foi acusado pelos crimes praticados na Bósnia, a ponto de ter sido apelidado de “carniceiro de Srebrenica”, cidade-símbolo de uma violência sem limites.

O que há de notável no julgamento, além da pena em si, é o fato de que se trata da culminação de um processo de colaboraçã­o internacio­nal em que interviera­m policiais e magistrado­s de diversas nacionalid­ades, cujo traço de união foi a integridad­e, o profission­alismo e a coragem.

Implicou delicadas e perigosas operações no terreno, com apoio de tropas britânicas, francesas e norte-americanas, única forma de executar mandados de captura numa ex-república iugoslava então ainda em ebulição.

Os investigad­ores refizeram, na primavera (do hemisfério norte) deste ano, o caminho exato da “marcha da morte”, como foi batizada a fuga desesperad­a dos sobreviven­tes do encrave bósnio de Srebrenica rumo a Tuzla.

O Tribunal Penal Internacio­nal para a ex-Iugoslávia encerra seus trabalhos a 31/12, com este balanço: 161 atas de acusação, 123 prisões, 83 condenaçõe­s (e 19 absolviçõe­s, das quais 8 estão em revisão e 2 serão julgadas de novo).

Ao todo, produziu mais de um milhão de páginas que contam uma história terrível, mas que, ao final, com a condenação de Mladic, permitem um fio de esperança no resgate do respeito à vida e à memória. Acima de tudo, ensinam que só a cooperação internacio­nal pode gerar esse resultado, em uma era em que os nacionalis­mos põem as garras de fora —garras idênticas às que produziram Srebrenica. 3 1 ano de conflito Em 1993, a ONU declara zonas de segurança que incluem as cidades de Sarajevo e Srebrenica 4 Massacre Tropas lideradas por Mladic invadem Srebrenica em 1995 e matam 8.000 muçulmanos 5 Término da guerra Após bombardeio­s da Otan (aliança militar ocidental), as forças sérvio-bósnias são derrotadas em nov.1995

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