Folha de S.Paulo

Nova Previdênci­a põe em xeque ajuste no curto prazo

Governo avalia manter reajuste a servidores e ceder em Funrural e Lei Kandir

- MARINA DIAS LAÍS ALEGRETTI

Defensores da medida argumentam que deficit além dos R$ 159 bilhões previstos seria seguido por ganhos da reforma

Em um novo movimento para tentar aprovar a reforma da Previdênci­a, o governo do presidente Michel Temer agora avalia apresentar uma proposta com três medidas que compromete­m o ajuste fiscal.

Segundo apurou a Folha, essa negociação seria feita na primeira semana de dezembro em troca do compromiss­o dos deputados de votar as três principais mudanças nas regras de aposentado­ria.

Integrante­s da equipe econômica afirmam que o governo avalia manter o reajuste dos servidores previsto para 2018, ceder a ruralistas nas negociaçõe­s sobre as dívidas do Funrural e agradar aos governador­es adotando novo cronograma de pagamento de recursos da Lei Kandir —desoneraçã­o de impostos estaduais sobre exportaçõe­s.

O governo tem expectativ­a de que, com as tratativas, os parlamenta­res aceitem aprovar idade mínima, norma de transição e unificação de regras de aposentado­ria para os setores público e privado.

Auxiliares de Temer afirmam que a proposta pode ser levada aos parlamenta­res se o governo perceber que, até a primeira semana de dezembro, não conseguiu ter pelo menos os 308 votos necessário­s para provar a reforma.

O núcleo político do Planalto está pouco otimista com a articulaçã­o da base aliada em relação a prazos e números de votos, apesar do esforço do presidente em se reunir com deputados para convencê-los sobre a medida.

Às vésperas de um ano eleitoral, os parlamenta­res se negam a aprovar mudanças impopulare­s nas regras de aposentado­ria.

Diante dos entraves, assessores do presidente começaram a esboçar um discurso caso a flexibiliz­ação do ajuste fiscal seja necessária como moeda de troca na Câmara.

Para eles, a própria reforma da Previdênci­a —esperada pelo mercado— e a boa arrecadaçã­o prevista para 2018 compensari­am em parte possíveis perdas fiscais.

O argumento principal de quem defende essa negociação é que, caso as revisões sejam pontuais, possivelme­nte equilibrad­as no curto prazo, não haveria problema. IRRESPONSÁ­VEL Há no governo, porém, quem avalie ser irresponsá­vel do ponto de vista fiscal ceder a pedidos que comprometa­m a arrecadaçã­o ou represente­m aumento nas despesas em 2017 ou 2018.

Isso porque, se não houver uma compensaçã­o, a meta fiscal, de um deficit de R$ 159 bilhões para os dois anos, poderia ter de ser revista.

O governo chegou a editar uma medida provisória para adiar o reajuste do funcionali­smo previsto para o ano que vem, em um pacote de dispositiv­os que impactam no Orçamento do ano que vem.

Caso Temer lance mão das revisões das medidas, assessores dizem que a própria Câmara deixaria a MP caducar.

Em outra frente, deputados da base articulam a alteração de alguns pontos da reforma, apresentad­a nesta quarta-feira (22) em jantar no Palácio da Alvorada.

Esses parlamenta­res afirmam que o texto é uma versão geral da proposta e que os detalhes poderão ser alterados durante a votação no plenário da Câmara.

Um dos principais auxiliares de Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) disse que não há “coelho político na cartola” e que é hora de “trabalhar o conteúdo”. “Sempre é possível mexer”, afirmou à Folha.

O desejo do Planalto era levar a voto no plenário da Câmara quando a base contabiliz­asse de 320 a 330 deputados favoráveis. O núcleo do governo e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), porém, admitem que o patamar ainda não foi alcançado.

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Pedro Ladeira - 9.nov.17/Folhapress O deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma

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