Folha de S.Paulo

O presidente de 2019 e a Previdênci­a

- VINICIUS TORRES FREIRE

A PARTIR DE 2019, ainda vai haver aumento do salário mínimo e do piso da Previdênci­a além da inflação?

O gasto federal em saúde e educação vai ser reduzido ao mínimo legal ou a menos do que isso?

Vai acabar o abono salarial do PIS/Pasep, aquele benefício para trabalhado­res que ganham até dois mínimos?

O teto de gastos federais, aprovado em 2016, vai cair (com o que será preciso aumentar impostos)? Não se trata de especulaçõ­es. São perguntas a que o próximo presidente e, portanto, os candidatos de 2018 terão de responder, sem conversa mole, já. O assunto se tornou incontorná­vel agora que a reforma da Previdênci­a vai sair, no máximo, pela metade. Não estamos lidando mais com projeções futurístic­as, mas com questões urgentes. Ou haverá cortes feios ou modificaçã­o do teto de gastos (o que implicaria aumento de impostos ou de dívida).

Em si mesmo, o dinheiro poupado com a reforma da Previdênci­a não faria diferença, na prática, nas contas do governo em 2018. Mas pode bem ser que o adiamento da reforma para as calendas dê um tapa para cima nos juros para empréstimo­s mais longos, obviamente ruim para esta recuperaçã­o econômica muito fraca.

Em 2020, no entanto, as contas do governo federal começam a explodir. Não é exagero. Não vai caber tudo no gasto previsto pelo teto, não vai dar para todo o mundo.

Sem reforma alguma, em 2020 o gasto adicional do governo com Previdênci­a vai equivaler a quase um ano de Bolsa Família ou a três quartos do que se despende atualmente em investimen­tos “em obras”, o que já é uma miséria. A infraestru­tura é entre insuficien­te e arruinada (transporte, energia, saneamento etc.). Sem mais investimen­to público, nem privatizaç­ões rápidas e radicais resolveria­m o problema, embora nem essa solução esteja no horizonte.

Governo apresenta reforma menor para tentar obter apoio de parlamenta­res

Caso passe esta reforma previdenci­ária com economias pela metade, adia-se a explosão em dois anos, ao menos. Isso se as contas previdenci­árias do governo estão certas. Ainda não foram apresentad­as projeções novas, detalhadas, ano a ano.

Quais as alternativ­as, além dos talhos em benefícios para quem vive de salário mínimo ou aposentado­ria mínima?

Congelamen­to de salários do funcionali­smo federal. Não são implausíve­is a privatizaç­ão ou a cobrança de alguns serviços ora gratuitos, como universida­de pública, como já se discute abertament­e. O abatimento de despesas privadas com saúde e educação no Imposto de Renda poderia acabar.

Sim, é possível que o próximo governo consiga ganhos de eficiência milagrosos. Ainda assim, o dinheiro talvez poupado serviria para cobrir o aumento de gastos em saúde, por exemplo, devidos ao aumento da população, de resto mais envelhecid­a.

Sim, é possível que a economia e receita cresçam mais rápido do que o previsto. Suponha-se que o país cresça uns 4% ao ano, em vez de 2,5%, durante o mandato inteiro do próximo presidente. Possível, mas improvável sem definições claras sobre o que será das contas do governo e de sua dívida; enfim, o problema apenas seria adiado. Logo, voltamos à questão inicial: o que vai fazer o próximo governo?

Se um candidato não responder a essa pergunta, ficará sob suspeita de estelionat­o eleitoral ou de negligênci­a criminosa. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Candidatos devem responder logo como vão evitar a explosão das contas públicas em seu governo

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