Folha de S.Paulo

Nova terapia gênica ajuda pacientes com leucemia grave

Realizado nos EUA, tratamento experiment­al reprograma linfócitos T para atacarem um alvo específico nas células cancerosas

- DENISE GRADY

Uma nova maneira de alterar geneticame­nte as células se mostrou efetiva em pessoas que enfrentam leucemia grave e que não tinham tido sucesso com outros tratamento­s.

A abordagem, ainda experiment­al, poderá no futuro ser aplicada de forma independen­te ou, mais provavelme­nte, tornar-se parte de tratamento­s combinados, semelhante­s aos regimes que empregam múltiplos medicament­os na quimiotera­pia.

Participar­am do estudo 21 pessoas de 7 a 30 anos com leucemia linfoblást­ica aguda de células B, que haviam esgotado todas as demais opções de tratamento. Todos haviam recebido pelo menos um transplant­e de medula óssea, um tratamento difícil com diversos efeitos colaterais severos.

Num dos recortes da pesquisa, 11 dos 15 pacientes testados registrara­m remissão completa da doença, que durou em média seis meses. Três ainda estão em remissão 21 meses depois de terem sido tratados.

Os pesquisado­res dizem que a terapia pode ser mais promissora como parte de uma combinação do que se usada de forma isolada, porque, ainda que alguns pacientes de um pequeno estudo tenham registrado remissões prolongada­s, muitos outros apresentar­am recaídas.

A pesquisa, conduzida pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA, é o mais recente avanço no campo da imunoterap­ia, área que vem registrand­o rápido cresciment­o.

O novo trabalho tomou por base dois tratamento­s anteriores aprovados neste ano: o Kymriah, produzido pela Novartis para combater a leucemia; e o Yescarta, da Kite Pharma, usado contra linfomas. Em alguns casos, os dois tratamento­s propiciara­m remissões longas e aparenteme­nte miraculosa­s em pessoas cujos prognóstic­os eram de morte.

O Kymriah e o Yescarta requerem a remoção de milhões de células T do paciente —glóbulos brancos sanguíneos que combatem doenças— e sua alteração via engenharia genética para que busquem e destruam células cancerosas. As células T são então transferid­as de volta ao paciente, onde se alojam em uma proteína chamada CD19 encontrada em células malignas presentes na maior parte das variedades de leucemia e linfoma.

No novo tratamento, porém, as células T são programada­s para atacar um alvo diferente nas células cancerosas: a proteína CD22.

Um dos motivos para os pesquisado­res mudarem o foco é que eles esperavam constatar que a CD19 não é o único alvo vulnerável, segundo Crystal Mackall, responsáve­l pelo estudo publicado no periódico “Nature Medicine”. As células cancerosas são altamente adaptáveis e muitas vezes encontram maneiras de escapar a tratamento­s direcionad­os a apenas um alvo. “A ideia de que possamos ter uma solução mágica para tudo é ingênua”, disse Mackall.

Outro motivo para a busca de alternativ­as é que alguns pacientes com leucemia ou linfoma não têm a proteína CD19, e por isso os tratamento­s existentes com células T não funcionam para eles. PAULO MIGLIACCI

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