Folha de S.Paulo

Mudança no estatuto do COB frustra atletas

Documento aumenta para cinco o número de vagas na assembleia geral para desportist­as, que queriam 12 lugares

- PAULO ROBERTO CONDE SÉRGIO RANGEL

Depois de impugnação de voto, confederaç­ão de rúgbi diz que vai interpelar comitê e até acionar a Justiça

Em seu novo estatuto, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) aumentou a participaç­ão dos atletas em sua assembleia geral. Mas, devido a um voto impugnado, a participaç­ão será menor do que era reivindica­do pelos esportista­s.

Em uma votação apertada, o órgão máximo da entidade não aceitou a proposta de ampliar o número representa­ntes dos atletas para 12.

A partir de agora, os atletas contarão com cinco assentos. No antigo estatuto, só um atleta participav­a do órgão.

Já as confederaç­ões terão 35 representa­ntes —surfe, skate, caratê, escalada e beisebol/softbol foram esportes que entraram no programa dos Jogos de Tóquio-2020.

O voto do presidente da CBRu (Confederaç­ão Brasileira de Rubgy), Eduardo Mufarej, foi impugnado após a votação terminar empatada em 15 a 15. O cartola teve que deixar a reunião antes do final, mas adiantou o seu voto em favor da reivindica­ção dos atletas de aumentar a sua participaç­ão na assembleia.

Porém, quando a votação terminou empatada, o presidente da Confederaç­ão Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Gaspar Pinto Azevedo, pediu a impugnação do voto dado pelo dirigente do rúgbi.

Comandante da entidade desde 1995, Azevedo alegou que apenas os cartolas que estavam na reunião durante a votação poderiam ter os seus votos computados.

Depois de um debate acalorado, os dirigentes impugnaram o voto do representa­nte do rúgbi por 15 a 14.

Em nota, a confederaç­ão de rúgbi disse que vai interpelar o COB a respeito e pode até acionar a Justiça.

“De forma ilegal e sem sustentaçã­o jurídica ou estatutári­a alguma, o voto da CBRu foi desconside­rado. A CBRu encara a decisão com perplexida­de. A entidade notificará o COB, buscando a validação de seu voto e a observânci­a ao Estatuto do COB, como forma de Justiça”, afirmou a entidade no comunicado.

Outros participan­tes também lamentaram a manobra.

“Foi uma perda grande para a nossa classe. Queremos uma maior participaç­ão para ter uma democratiz­ação maior da entidade. Infelizmen­te, isso não aconteceu”, disse o presidente da Comissão de Atletas do COB, Tiago Camilo, que também participou da comissão que reformou o estatuto da entidade.

“Não é o que a sociedade esperava. Ficamos frustrados”, disse Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVela (Confederaç­ão Brasileira de Vela) e também integrante da comissão.

Caso a votação terminasse empatada, Paulo Wanderley, atual presidente do COB, teria que desempatar. “Tenho a minha posição, mas não quero me manifestar. Vou respeitar a decisão da assembleia”, disse o cartola.

“Infelizmen­te, o ponto que será marcado é esse [a redução da participaç­ão dos atletas]. Mas vale lembrar que avançamos”, acrescento­u.

Diretor-presidente da ONG Atletas pelo Brasil, o ex-jogador Raí, 52, classifico­u como “golpe” a impugnação do voto do representa­nte da CBRu. Ele disse que pode acionar a Justiça para rever a decisão.

“Foi um absurdo. Não o resultado em si, mas a maneira arbitrária e de má-fé que cancelaram o voto. Só mostra o grau de arbitrarie­dade que existe no COB”, disse.

A Atletas pelo Brasil participou do processo de reforma do estatuto. Ela reivindica­va que os atletas tivessem ao menos 1/3 da presença das confederaç­ões na assembleia, ou seja, cerca de 12 membros.

“O que aconteceu foi uma traição, um golpe pelas costas. Incluindo o presidente Paulo Wanderley, que se absteve ao não se posicionar. Foi uma covardia”, afirmou.

A mudança do estatuto é uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, em outubro.

Dirigente responsáve­l por comandar a organizaçã­o da Rio-2016, Nuzman foi preso em 5 de outubro com Leonardo Gryner, 64, seu braço direito no comitê organizado­r. Eles são suspeitos de atuarem na compra de votos para a escolha do Rio como sede.

O novo estatuto criou também um Conselho Administra­tivo, que será responsáve­l pelas finanças do COB. Ele terá 15 representa­ntes —oito dirigentes, presidente e vice (que será escolhido em março), um representa­nte brasileiro do COI, dois atletas e duas pessoas independen­tes escolhidas pela assembleia.

A escolha do novo presidente do COB será mais democrátic­a. Na reunião desta quarta, a entidade reduziu os critérios para registrar chapa.

Antes, o candidato teria que ser membro do comitê olímpico há cinco anos e contar com o apoio de pelo menos dez confederaç­ões.

Agora, o candidato precisa ter mais de 18 anos e contar com o apoio de somente três entidades.

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Ricardo Borges -13.out.2017/Folhapress Paulo Wanderley, presidente do Comitê Olímpico do Brasil, durante entrevista à Folha

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