Mudança no estatuto do COB frustra atletas
Documento aumenta para cinco o número de vagas na assembleia geral para desportistas, que queriam 12 lugares
Depois de impugnação de voto, confederação de rúgbi diz que vai interpelar comitê e até acionar a Justiça
Em seu novo estatuto, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) aumentou a participação dos atletas em sua assembleia geral. Mas, devido a um voto impugnado, a participação será menor do que era reivindicado pelos esportistas.
Em uma votação apertada, o órgão máximo da entidade não aceitou a proposta de ampliar o número representantes dos atletas para 12.
A partir de agora, os atletas contarão com cinco assentos. No antigo estatuto, só um atleta participava do órgão.
Já as confederações terão 35 representantes —surfe, skate, caratê, escalada e beisebol/softbol foram esportes que entraram no programa dos Jogos de Tóquio-2020.
O voto do presidente da CBRu (Confederação Brasileira de Rubgy), Eduardo Mufarej, foi impugnado após a votação terminar empatada em 15 a 15. O cartola teve que deixar a reunião antes do final, mas adiantou o seu voto em favor da reivindicação dos atletas de aumentar a sua participação na assembleia.
Porém, quando a votação terminou empatada, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Gaspar Pinto Azevedo, pediu a impugnação do voto dado pelo dirigente do rúgbi.
Comandante da entidade desde 1995, Azevedo alegou que apenas os cartolas que estavam na reunião durante a votação poderiam ter os seus votos computados.
Depois de um debate acalorado, os dirigentes impugnaram o voto do representante do rúgbi por 15 a 14.
Em nota, a confederação de rúgbi disse que vai interpelar o COB a respeito e pode até acionar a Justiça.
“De forma ilegal e sem sustentação jurídica ou estatutária alguma, o voto da CBRu foi desconsiderado. A CBRu encara a decisão com perplexidade. A entidade notificará o COB, buscando a validação de seu voto e a observância ao Estatuto do COB, como forma de Justiça”, afirmou a entidade no comunicado.
Outros participantes também lamentaram a manobra.
“Foi uma perda grande para a nossa classe. Queremos uma maior participação para ter uma democratização maior da entidade. Infelizmente, isso não aconteceu”, disse o presidente da Comissão de Atletas do COB, Tiago Camilo, que também participou da comissão que reformou o estatuto da entidade.
“Não é o que a sociedade esperava. Ficamos frustrados”, disse Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVela (Confederação Brasileira de Vela) e também integrante da comissão.
Caso a votação terminasse empatada, Paulo Wanderley, atual presidente do COB, teria que desempatar. “Tenho a minha posição, mas não quero me manifestar. Vou respeitar a decisão da assembleia”, disse o cartola.
“Infelizmente, o ponto que será marcado é esse [a redução da participação dos atletas]. Mas vale lembrar que avançamos”, acrescentou.
Diretor-presidente da ONG Atletas pelo Brasil, o ex-jogador Raí, 52, classificou como “golpe” a impugnação do voto do representante da CBRu. Ele disse que pode acionar a Justiça para rever a decisão.
“Foi um absurdo. Não o resultado em si, mas a maneira arbitrária e de má-fé que cancelaram o voto. Só mostra o grau de arbitrariedade que existe no COB”, disse.
A Atletas pelo Brasil participou do processo de reforma do estatuto. Ela reivindicava que os atletas tivessem ao menos 1/3 da presença das confederações na assembleia, ou seja, cerca de 12 membros.
“O que aconteceu foi uma traição, um golpe pelas costas. Incluindo o presidente Paulo Wanderley, que se absteve ao não se posicionar. Foi uma covardia”, afirmou.
A mudança do estatuto é uma exigência do COI (Comitê Olímpico Internacional) após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, em outubro.
Dirigente responsável por comandar a organização da Rio-2016, Nuzman foi preso em 5 de outubro com Leonardo Gryner, 64, seu braço direito no comitê organizador. Eles são suspeitos de atuarem na compra de votos para a escolha do Rio como sede.
O novo estatuto criou também um Conselho Administrativo, que será responsável pelas finanças do COB. Ele terá 15 representantes —oito dirigentes, presidente e vice (que será escolhido em março), um representante brasileiro do COI, dois atletas e duas pessoas independentes escolhidas pela assembleia.
A escolha do novo presidente do COB será mais democrática. Na reunião desta quarta, a entidade reduziu os critérios para registrar chapa.
Antes, o candidato teria que ser membro do comitê olímpico há cinco anos e contar com o apoio de pelo menos dez confederações.
Agora, o candidato precisa ter mais de 18 anos e contar com o apoio de somente três entidades.