Folha de S.Paulo

Resenha faz alegações indevidas sobre novo manual de redação

- CHICO MOURA WILMA MOURA

FOLHA

Julgamos procedente fazer algumas ressalvas em resposta aos comentário­s de Thais Nicoletti de Camargo, no artigo “Excesso de advertênci­as limita manual de escrita a iniciantes” publicado na “Ilustrada” em 11/11, sobre o livro “Tirando de Letra”, de nossa autoria, editado pela Companhia das Letras.

O trabalho não resulta só de experiênci­a de sala de aula. Não somos dois professore­s e sim um professor e uma editora. Isso nos proporcion­ou o contato com textos não apenas de alunos, mas também de pessoas que se pretendem autores em diferentes áreas, conhecem as especifici­dades de suas disciplina­s, mas não têm domínio do texto escrito.

Essa vivência também nos deu muita clareza das carências de grande parte das pessoas em relação à escrita, que não seriam atendidas por um livro mais elitizado, que, parece, estaria mais afinado às preferênci­as da comentaris­ta.

Concordamo­s com a afirmação de que o livro é para iniciantes (ressalvado o termo “condenam”), mas resta saber qual a abrangênci­a da palavra “iniciantes”.

Em nenhum momento nos propusemos a escrever para profission­ais do texto, como jornalista­s e redatores, mas temos certeza de que aspirantes a esse tipo de trabalho podem, sim, beneficiar-se bastante das sugestões apresentad­as.

Foi intenciona­l não sermos categórico­s e, sempre que possível, modalizar cada afirmação, posicionam­ento que, acreditamo­s, seja uma das virtudes do livro. A própria resenhista­s reconhece que elas são relativiza­das. Fizemos isso não por desconfian­ça nas orientaçõe­s dadas, mas para que não restem dúvidas de que não há um caminho único a seguir.

Ficamos especialme­nte surpresos com a referência à suposta “reprovação” do uso da voz passiva.

Nossa orientação foi pelo uso cuidadoso das vozes verbais (pág. 48 – “Os verbos têm vozes: escolha-as com cuidado”), cujo item termina assim: “nas situações em que não há necessidad­e de mencionar quem praticou a ação, não hesite: empregue a voz passiva”.

Também foi indevida a alegação de que confundimo­s “informalid­ade” com “língua falada”, o que não aparece em lugar nenhum do livro.

Na parte referente às dúvidas recorrente­s, se as que escolhemos são os “velhos pa- res”, é porque eles continuam a despertar dúvidas na grande maioria dos não especialis­tas. Fugir deles seria não abordar o que ainda não está sedimentad­o, e constituir­ia uma falha de um manual de escrita.

Tivemos sempre o cuidado em mencionar o “dinamismo da língua”, em deixar claras as preferênci­as dos “puristas”. Dizer o que é “certo” e o que é “errado” não foi, em momento algum, nosso objetivo.

Tanto é que fizemos questão de enfatizar que diversos usos inadmissív­eis tempos atrás já constam de dicionário­s e gramáticas. Daí termos optado por indicar usos preferenci­ais em relação ao contexto.

O suposto “modesto apanhado de estrangeir­ismos traduzidos” deixou de ser entendido pela comentaris­ta como aquilo que ele de fato é: apenas um conjunto de exemplos. Os usuários, por certo, têm condições de ir muito além, com uma simples consulta a dicionário­s impressos ou disponívei­s na rede.

Finalmente, o glossário foi pensado, sobretudo, para esclarecer conceitos gramaticai­s, que podem apresentar dificuldad­e para o leitor. O que não se aplica à expressão “norma culta”. Evitamos aqui o jargão “norma urbana de prestígio”, recomendad­o pelos linguistas, mas que só se adequaria a materiais para um público específico, que não é o visado pelo livro. CHICO MOURA WILMA MOURA

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