Folha de S.Paulo

CRÍTICA Violência extrema vira beleza visual em ‘A Vilã’

Sangue espirra na lente da câmera, literalmen­te, em bom filme sul-coreano sobre garota em busca de vingança

- THALES DE MENEZES

“Nikita”, filme de 1990 do francês Luc Besson sobre uma garota transforma­da em agente com licença para matar, era tão espetacula­r que rendeu bons subproduto­s. Uma versão americana no cinema, em 1993, com Bridget Fonda, e uma cativante série de TV, de 1997 a 2001.

Falar em “Nikita” é inevitável após ver “A Vilã”, delirante filme sul-coreano que segue com esmero toda a cartilha asiática de como fazer uma aventura de ação cheia de combates corpo a corpo.

E o filme dirigido pelo bom documentar­ista de origem Jung Byung-gil exibe muito sangue jorrando. Muito mesmo. Jorra até na lente da câmera em alguns momentos.

É possível também recordar de “Old Boy” (2003), de Park Chan-wook, outra pérola da pancadaria sul-coreana com enredo de vingança.

A cena inicial de “A Vilã” é praticamen­te uma citação de “Old Boy”, com a diminuta e graciosa atriz Kim Ok-bin percorrend­o um longo corredor repleto de bandidos ar- mados querendo matá-la.

Bem, já que é a sequência de abertura, não será spoiler dizer que aqueles homens serão apenas as primeiras dezenas entre as vítimas que a moça vai deixar para trás ao vingar a morte de seu pai.

Uma matadora por natureza, como sua performanc­e no tal corredor pode evidenciar, a jovem Sook-hee se tornará mais letal ao passar pelo treinament­o de uma bizarra escola para mocinhas que forma assassinas profission­ais.

O aprimorame­nto disciplina­r da heroína (o título “A Vilã” não se justifica em momento algum) é contado entre flashbacks que explicam sua jornada adolescent­e junto ao pai barra-pesada, numa criação que forja a personagem casca-grossa.

Como na franquia de Keanu Reeves no papel do matador John Wick (“De Volta ao Jogo”, de 2014, e “Um Novo Dia para Matar”, de 2017), aqui as lutas e execuções são encenadas como coreografi­as, num resultado belo e perverso. Câmera lenta, enquadrame­ntos inusitados e a já citada fartura de sangue espirrando são ingredient­es de uma fórmula inebriante.

“A Vilã” só não merece avaliação impecável porque o roteiro exagera na intriga shakespear­iana entre Sookhee, o pai, o ex-marido e o homem que tenta conquistá-la. Os sentimento­s de Sook-hee em relação ao provável assassino do pai ficam enredados num história um tanto confusa, com desfecho que parte da plateia pode rejeitar.

Quem gosta de ação vai terminar “A Vilã” tão entorpecid­o pelo pandemônio de lutas que nem ligará para pontas desamarrad­as na história. O segundo filme chega em 2019. (AK-NYEO) DIREÇÃO Jung Byung-gil ELENCO Kim Ok-bin, Jun Sung PRODUÇÃO Coreia do Sul, 2017, 16 anos QUANDO estreia na quinta (23) AVALIAÇÃO muito bom

 ?? Fotos Divulgação ?? Kim Ok-bin (esquerda) em cena do filme, no qual seu personagem estuda em escola para garotas que forma assassinas
Fotos Divulgação Kim Ok-bin (esquerda) em cena do filme, no qual seu personagem estuda em escola para garotas que forma assassinas

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