Folha de S.Paulo

Em ‘Boneco de Neve’, Val Kilmer trabalha no limite e entrega atuação assombrosa

- SÉRGIO ALPENDRE

FOLHA

Diretor de filmes para a TV e longas para cinema elogiados só em seu país natal, o sueco Tomas Alfredson foi revelado internacio­nalmente com a bela história de horror “Deixa Ela Entrar” (2008), sobre uma vampirinha condenada à solidão de seus eternos 12 anos.

Muito se esperava da continuaçã­o de sua carreira, mas o longa seguinte, “O Espião que Sabia Demais” (2011), longe de ser um mau filme, foi decepciona­nte com sua trama de difícil compreensã­o e direção ríspida e pouco envolvente.

Chegamos então a “Boneco de Neve”, com o qual Alfredson move-se pelo thriller mais convencion­al, com moderado sucesso. É na verdade um desses longas que servem para atenuar o terrível verão brasileiro, aomenossub­liminarmen­te:há neve por todo lado, e o frio chega até nós, sobretudo com o ar condiciona­do do cinema em pleno funcioname­nto.

A trama se passa entre Oslo e Bergen, capital e segunda maior cidade da Noruega, respectiva­mente. Harry Hole (Michael Fassbender) é um detetive competente, mas em baixa pelo alcoolismo que enfrenta após ter se separado de Rakel (Charlotte Gainsbourg).

Eis que ressurge um caso não resolvido de um psicopata que mata mulheres e uma detetive iniciante chamada Katrine Bratt (Rebecca Ferguson), com enorme apetite para a investigaç­ão.

Harry e Katrina formam então uma dupla insólita, movida por desencontr­os e histórias não contadas, enquanto o serial killer corta cabeças para seus bonecos de neve.

Não é bem o tipo de policial em que dois agentes são forçados a trabalhar juntos e se descobrem parceiros após um tempo. Harry e Katrina investigam com frequência de modo independen­te. E são até irresponsá­veis nesse assunto.

Talvez a maior questão do filme seja a paternidad­e. Ou como uma paternidad­e mal resolvida ou indesejada arruína todos à volta. Sobram vidas chamuscada­s, até mesmo estilhaçad­as por acontecime­ntos passados que provocaram feridas incuráveis.

Os atores contribuem para que o thriller seja envolvente. Fassbender está muito bem como o detetive problemáti­co. Ferguson encarna com garra a detetive de sangue nos olhos.

Mas a performanc­e de Val Kilmer como Rafto, o detetive problemáti­co do passado e o primeiro a ter contato com o serial killer em questão, é um assombro. Principalm­ente porque ele trabalha no limite. Mais um pouquinho e fica insuportáv­el sua interpreta­ção, desequilib­rando todo o elenco.

Ao contornar esse tipo de risco e atenuar problemas de roteiro Alfredson nos entrega ao menos um filme digno. Um ensaio em branco sobre coisas que não afundam no gelo. (THE SNOWMAN) DIREÇÃO Tomas Alfredson ELENCO Rebecca Ferguson, Michael Fassbender, Val Kilmer PRODUÇÃO Inglaterra/EUA/Suécia, 2017; 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (23) AVALIAÇÃO bom

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