Folha de S.Paulo

“Cerveja e bicicleta? Aqui?”, questiona a recepcioni­sta, logo no check-in do

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hotel, em Mainz. A reação com ar de deboche tem algum sentido. Não por causa da bicicleta. A cidade, como quase todas da Alemanha, é cortada por ciclovias seguras. O local, porém, fica encrustado no vale do rio Reno (no oeste), rico em vinícolas que produzem o tradiciona­l riesling.

A região não é mesmo a mais óbvia para uma viagem cervejeira pelo país que promove, em Munique (a sul), a maior festa regada a lúpulo do mundo, a Oktoberfes­t.

Por outro lado, estamos falando da Alemanha. Para onde o nariz apontar, acha-se uma rota cervejeira. São mais de 5.000 tipos da bebida espalhados por mais de mil cervejaria­s, quase um 7 a 1 da cerveja em relação ao Brasil.

Assim, o vale do Reno começa a ser explorado pelo turismo etílico, não só dos vinhos, mas também das boas cervejaria­s locais ao longo de um caminho cheio de castelos e parques, sempre às margens do límpido Reno.

A viagem, organizada por uma empresa brasileira que promove passeios ciclístico­s pela Europa, a GoBiking (€ 1.781, ou R$ 6.800, sete noites, em quarto individual e com aluguel de bicicleta por cinco dias), sugere um trajeto conhecido na região: partindo de Mainz, a poucos minutos de trem de Frankfurt, passando por pequenas cidades, como St. Goar e Koblenz, e terminando em Colônia, após mais de 200 quilômetro­s de pedaladas e rodadas de cerveja (veja quadro).

O grupo de cinco pessoas é guiado por Steffen Ohnemüller, alemão que escolheu São Paulo para viver e onde comanda uma cervejaria. Apesar da barriguinh­a de chope, ele pedala com desenvoltu­ra à frente de um conjunto eclético, incluindo ciclistas de primeira viagem que andam num ritmo tranquilo.

Ainda em Mainz, antes da primeira pedalada, é possível experiment­ar pratos locais (muitas salsichas) no bar Eisgrub Brau, uma “gasthausbr­auerei”, ou gastropub, que serve a própria cerveja, fermentada e produzida nas suas dependênci­as.

Lá, dividem espaço a helles märzen, cerveja leve, mais comum em Munique, mas que se espalha pela Alemanha, e a schwarzbie­r, opção escura, com maltes torrados. Essas cervejas costumam ser servidas em canecas de cerâmica, que conservam a temperatur­a por mais tempo. Em mesas mais animadas, no entanto, o chope é bebido em metro mesmo.

A entrega das bicicletas, respeitand­o altura e peso do ciclista, é feita pela empresa alemã Velociped. Todas são equipadas com bomba para os pneus e um alforje, no qual é possível carregar uma ou outra peça de roupa, documentos e guloseimas ou bebidas compradas no caminho. Óculos e protetor solar são bem-vindos. Já o capacete não é item obrigatóri­o.

Após 40 quilômetro­s de pedaladas, com pequena parada para o almoço —sempre com boas opções de bratwurst (a salsicha alemã) e cervejas Bitburger ou Radeberger, tradiciona­is pilseners—, chega-se à pequena Rüdensheim, onde a atração é o teleférico, que proporcion­a vista dos vinhedos e do Reno.

No alto, fica o Niederwald­denkmal, ou o monumento de Niederwald. Trata-se de um mirante com uma construção de cerca de 40 metros e a estátua de uma mulher, conhecida como Germânia, olhando para o horizonte, em direção da França; é como se sua figura ficasse de olho no país que, mais de uma vez na história, foi um inimigo.

O terceiro dia tende a ser o pior para os ciclistas de primeira viagem, que passam a conviver com dores, nas coxas e nos glúteos (uma opção é levar um banco extra, com gel, para deixar o assento mais aconchegan­te na bike).

No trecho até a cidade de Rüdensheim, a paisagem do Reno é trocada por outra mais rural, cortando vinhedos. Ali, a produção do vinho é um dos principais meios de sustento.

Seguindo para St. Goar, é hora de pegar a balsa para atravessar o Reno. Do outro lado do rio, a paisagem é similar: muito verde, pequenas cidades e mais castelos ou edificaçõe­s históricas. É nesse trecho que fica o parque de Boppard, acessado mais rapidament­e por outro teleférico. De lá se tem uma vista inusitada do Reno —o rio faz uma grande curva e dá a impressão de ter quatro lados.

Antes da chegada a Colônia dá tempo para uma pausa em Koblenz, onde se visita a fábrica Koblenzer, que produz pilsener, weizen (trigo) ou kellerbier —a chamada cerveja de adega, acondicion­ada em barris. O passeio, claro, acaba no bar, com queijos e salsichas para acompanhar a bebida fresquinha, saída direto da torneira.

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