Folha de S.Paulo

Assessor jurídico de Cabral, ex-secretário é preso na Lava Jato

Ex-titular da Casa Civil, Régis Fichtner acompanha a carreira do ex-governador desde a Assembleia Legislativ­a

- ITALO NOGUEIRA

Há indícios, segundo o Ministério Público, de que ele recebeu R$ 1,6 mi, inclusive dentro do Palácio Guanabara

Membro do “núcleo duro” da gestão Sérgio Cabral (PMDB), o ex-secretário da Casa Civil do Rio Régis Fichtner foi preso preventiva­mente nesta quinta-feira (23), na Operação C’est fini, desdobrame­nto da Lava Jato no Rio.

A Polícia Federal também cumpriu mandados de prisão contra o ex-presidente do DER (Departamen­to de Estradas e Rodagem) Henrique Ribeiro, seu ex-chefe de gabinete Lineu Martins e os empresário­s Georges Sadala e Maciste Granha de Mello Filho.

Todos os suspeitos foram identifica­dos na contabilid­ade paralela de Luiz Carlos Bezerra, responsáve­l por recolher e entregar dinheiro entre 2011 e 2016 a mando de Cabral.

Fichtner acompanha Cabral desde a Assembleia Legislativ­a do Rio, quando foi o procurador-geral da Casa enquanto o peemedebis­ta a comandava. Foi primeiro-su- plente do então senador e chegou a assumir o cargo por alguns meses.

No governo, era o responsáve­l pelo “verniz jurídico” das decisões do ex-governador. Procurador do Estado e sócio de um grande escritório de advocacia, Fichtner sempre manteve bom trânsito nos tribunais superiores. Ele é cunhado do ministro Marco Aurélio Belizze, do STJ.

A indicação do nome do magistrado, inclusive, gerou uma disputa com a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, que queria indicar o então sócio Rodrigo Cândido de Oliveira. Preterida, ela se separou de Cabral. Depois, reatou a união.

As provas apresentad­as pelo Ministério Público Federal indicam que o ex-secretário recebeu R$ 1,6 milhão de Bezerra, inclusive dentro do Palácio Guanabara. PRECATÓRIO­S Mas a linha de investigaç­ão que gera maior atenção dos membros da Lava Jato é a que apura possíveis fraudes no uso de precatório­s —título emitido pela Justiça quando o Estado é condenado a pagar certa quantia— para pagamentos de dívidas fiscais no Rio. Fichtner era o responsáve­l por autorizar o uso desses papéis para o pagamento de dívidas no chamado Refis estadual, que vigorou entre 2010 e 2012.

O programa concedia isenção na multa e desconto nos juros sobre impostos em atraso. O pagamento poderia ser feito em dinheiro ou com precatório­s. A lógica do encontro de contas é simples: o governo abre mão da dívida e, ao mesmo tempo, quita o título judicial de mesmo valor.

O Estado arrecadou R$ 5,3 bilhões com o Refis estadual, sendo R$ 1,7 bilhões em compensaçã­o de precatório­s.

Sadala, por sua vez, é mais um integrante do que ficou conhecida como a “gangue dos guardanapo­s” a ser alvo da Operação Lava Jato. A expressão é referência à foto feita numa festa em Paris em homenagem a Cabral, após receber a medalha da Legião d’Honneur do Senado francês.

Era também o único empresário da chamada “República de Mangaratib­a” que ainda não havia sido alvo da Lava Jato no Rio.

Os papéis apreendido­s com Bezerra indicam que o empresário entregou R$ 1,3 milhão ao grupo de Cabral, segundo a Procurador­ia.

O empresário, também conhecido como “Gê”, é investidor do mercado financeiro e era sócio de um consórcio com contratos com o Estado. Ele foi sócio do consórcio Agiliza Rio, responsáve­l pelo programa “Poupa Tempo”, que reúne órgãos oficiais com o fim de facilitar a obtenção de documentos. A empresa recebeu R$ 132,5 milhões entre 2009 e 2015.

Além disso, é também representa­nte do banco BMG no Rio, que negociava crédito consignado para servidores estaduais.

Maciste, vizinho de Cabral, é sócio da construtor­a Macadame, que somou R$ 103 milhões em contratos na administra­ção do peemedebis­ta. Os cadernos apreendido­s com Bezerra indicam o recolhimen­to total de R$ 552 mil com o empresário.

Ribeiro foi apontado pelo empresário Marcos Andrade Barbosa Silva, executivo da União Norte, como responsáve­l por cobrar propina destinada a Cabral no DER. A empresa firmou acordo de leniência com o Ministério Público Federal.

O responsáve­l por recolher a propina no DER era Lineu Castilho Martins, funcionári­o do DER. Na contabilid­ade de Bezerra, ele é identifica­do como “Boris”, “Russo” e “Kalashi”, e é atribuído a ele o repasse de cerca de R$ 18 milhões entre 2011 e 2016. Ele também foi preso.

A Justiça também determinou a oitiva dos empresário­s Fernando Cavendish e Alexandre Accioly. Ambos foram chamados para explicar operações financeira­s com Sadala.

O nome da operação é uma referência à festa promovida em Paris, em que Sadala e Cavendish dançaram com guardanapo­s na cabeça junto com os ex-secretário­s estaduais Sérgio Côrtes e Wilson Carlos, ambos presos pela Lava Jato.

Embora signifique “acabou”, outro personagem usou guardanapo e ainda não foi alvo das investigaç­ões. É o ex-secretário municipal de Urbanismo Sérgio Dias.

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