Folha de S.Paulo

Sou a introdutor­a da obra de Clarice Lispector na Espanha.

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nos EUA e por conta da divulgação que lhe deram as feministas norte-americanas.

No Uruguai, a poeta emblemátic­a do modernismo, Delmira Agustini, foi assassinad­a por seu marido. Sylvia Plath se suicidou por conta do desprezo de seu marido poeta, e poderíamos fazer uma lista muito longa das dificuldad­es das escritoras para publicar.

Mesmo os escritores do “boom latino-americano”, como meu amigo Julio Cortázar, só evoluíram e deixaram de ser machistas depois dos 50 anos.

A sociedade também mudou por causa da luta das feministas. Os editores eram mais machistas ainda que os autores, mas, quando notaram que havia um grande filão de vendas na literatura de mulheres, começaram a publicá-las.

Mas a crítica segue sendo, na imensa maioria dos casos, escrita por homens, e eles, sim, são muito machistas, são os últimos defensores da ideia de que a literatura é coisa de homens, igual ao uísque.

Se hoje se estuda e se conhece a obra das mulheres escritoras, não é graças à crítica, mas às estudiosas feministas das universida­des e ao trabalho de tradutoras.

Não me cabe a menor dúvida de que, se eu tivesse nascido homem e escrito os mesmo livros que escrevi como mulher, teriam me dado o Prêmio Cervantes. A senhora menciona Maria Bethânia em um dos contos, e há críticos que relacionam aspectos de seu trabalho com Clarice Lispector. De que modo se sente vinculada à cultura brasileira? AUTORA Cristina Peri Rossi TRADUÇÃO Adriana Carina Camacho Álvarez EDITORA Gradiva QUANTO R$ 35 (238 págs.), à venda em gradivaedi­torial.com.br

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