Folha de S.Paulo

A lei do Onça

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RIO DE JANEIRO - Depois de Sérgio Cabral e Anthony e Rosinha Garotinho (até o momento em que escrevo, eles continuam presos, mas, hoje em dia, com esse entra e sai da cadeia, nunca se sabe), a pergunta nas ruas é se Pezão —seu mandato está cassado pelo TRE, mas ele está recorrendo— também terá o mesmo destino. Até parece maldição: sentou na cadeira, um dia vai parar no xilindró. Dizem que o futuro governador irá preso mesmo antes de tomar posse. Só para colaborar com as investigaç­ões.

Atual ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco governou o Rio entre 1987 e 1991. Não à toa, Temer editou uma medida provisória para lhe garantir foro privilegia­do. Moreira ficou conhecido como “genro do genro”, por ter sido casado com a filha de Amaral Peixoto, genro de Getúlio Vargas e, não por acaso, também governador do Rio duas vezes (1937-1945 e 1951-1955).

A “terra sem lei”, diagnostic­ada por Raquel Dodge, a procurador­ageral da República, não foi implantada hoje. Aqui funcionou o curral eleitoral de Chagas Freitas, governador da Guanabara (1971-1975) e do Estado (1979-1983). Se essa época fosse passada a limpo, que tipo de falcatruas a gente ia descobrir? E se voltássemo­s aos dois mandatos de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994)? Carlos Lacerda, primeiro governador da Guanabara, passaria impune?

Por pura implicânci­a, eu gostaria de uma devassa que retornasse ao tempo do Onça, ou seja, Luís Vahia Monteiro, capitão-geral entre 1725 e 1732. Truculento, ele vivia a reclamar da vida e chegou a escrever uma carta ao rei de Portugal dizendo que “nesta terra todos roubam, menos eu”. Se duvidar, nem Estácio de Sá, o fundador da cidade de São Sebastião, escaparia.

Para o restante do Brasil, deve ser um alívio não fazer parte do Rio. E que haja tanta podridão, aparenteme­nte, só no Rio. NABIL BONDUKI

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