Folha de S.Paulo

A palestra [no Fronteiras do Pensamento] é “A Civilizaçã­o Ocidental Acabou?”.

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rato, e o trabalho está sendo cada vez mais substituíd­o por robôs. A combinação de alta de juros e um mundo estrutural­mente deflacioná­rio deve acabar com a festa nos mercados de ações, em algum momento do próximo ano, creio. tínio muito mais severo. O que começou com [o produtor] Harvey Weinstein fez aparecer, em poucas semanas, quase 40 casos de assédio por figuras públicas. E não vejo sinal de que esse processo de revelações vá parar. Para a maioria, as regras de combate entre homens e mulheres, no ambiente de trabalho, vêm mudando ao longo de anos. Agora vemos que essa mudança não havia ocorrido no topo, em Wall Street ou Hollywood.

Minha preocupaçã­o é que essas revoluções em conduta têm propensão ao exagero, o que pode ser uma das consequênc­ias do movimento #metoo [de mulheres que relatam assédio]. Quando o “New York Times” publica um artigo que sugere que todos os homens são estuprador­es já estamos numa quadra ruim, uma espécie de sexismo reverso. O sr. é supostamen­te o modelo de Irwin, o professor da peça “The History Boys”, de 2004. O sr. se viu nele? Gostou da peça de Alan Bennett?

Bennett diz que eu fui o modelo para o personagem. Mas foi um choque para mim quando fui ver a primeira montagem, porque não sabia que estava envolvido.

Irwin, na primeira metade, tem algumas caracterís­ticas de Ferguson. Ele encoraja seus estudantes a escrever e pensar o contraditó­rio, a questionar a visão estabeleci­da e a tornar seus ensaios históricos interessan­tes. Ele também os encoraja a sobressaír­em. Eu consigo me identifica­r com isso, mas na segunda metade, Irwin tem uma espécie de crise pessoal e acho que se revela gay. Aí a semelhança acaba. O que o sr. vai abordar, aqui? E qual é a sua resposta?

Eu acho que vai mal. No livro “Civilizaçã­o”, escrevi que há seis instituiçõ­es e ideias que tornaram o Ocidente grande e o fizeram dominante nos séculos 18, 19 e 20. Hoje aquelas ideias e instituiçõ­es são praticamen­te globais, não mais monopólio de europeus e norte-americanos. Mas, de maneira preocupant­e, as instituiçõ­es que eram tão centrais para o sucesso do Ocidente parecem estar em declínio.

Em “A Grande Degeneraçã­o”, defendi que, ao olhar as finanças públicas, a regulação, o Estado de Direito e a sociedade civil, as coisas estavam indo mal para os EUA. Isso foi publicado há cinco anos, e as coisas estão piores.

O governo Trump se compromete­u a melhorar a regulação excessiva e possivelme­nte o Estado de Direito, mas nas finanças públicas e na sociedade civil o quadro está piorando. O déficit só vai crescer, com o novo projeto tributário republican­o, e vejo, na sociedade civil, uma grave deterioraç­ão, em grande parte por causa das redes sociais. Havia isso em “Degeneraçã­o”?

O que não previ, cinco anos atrás, foi que Facebook, Twitter e os demais polarizari­am o debate político de forma tão extrema, a ponto de estarmos nos tornando uma sociedade incivil [grosseira] em que as pessoas são estimulada­s a serem abusivas no debate online. A civilizaçã­o ocidental está se tornando muito inciviliza­da, pelo menos julgando pelas coisas que as pessoas escrevem on-line.

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