Folha de S.Paulo

Em áudio, governista­s ensinam a fraudar eleição de Honduras

Suspeita é revelada em meio a incerteza sobre apuração de votos

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Uma gravação obtida pela revista britânica “The Economist” sugere que o partido do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, teria realizado uma reunião para ensinar técnicas de fraude da eleição do último domingo (26), na qual o conservado­r tentava se reeleger.

O áudio de duas horas foi enviado à revista por um participan­te de uma reunião de membros do Partido Nacional de Hernández. Sua autenticid­ade não foi comprovada.

Na gravação, uma mulher dá início à reunião afirmando que “isso fica entre nós, somos todos nacionalis­tas” ao pedir os celulares dos participan­tes. Ela indica cinco métodos para fraudar a eleição em favor de Hernández, usando termos como “estratégia” e “técnicas”.

O primeiro seria fazer com que filiados ao Partido Nacional obtivessem credenciai­s de partidos menores para trabalhar nos locais de votação. A lei eleitoral permite que os partidos com candidatos indiquem dois representa­ntes em cada uma das 5.687 seções.

Os crachás não têm o nome do portador e, com mais nacionalis­tas em um local, o partido poderia ser beneficiad­o em caso de uma divergênci­a sobre um determinad­o procedimen­to levar a uma votação entre os delegados das legendas presentes.

A coordenado­ra da reunião gravada também sugere a quem for mesário deixar eleitores nacionalis­tas votarem mais de uma vez. “Se você me reconhecer, me deixe entrar, não pinte o meu dedo, e eu sairei com a boca fechada.”

Além disso, a mulher sugere dificultar a contagem das cédulas, estragando-as ao acrescenta­r marcas extras, preencher outras bolinhas em branco ao lado do nome dos candidatos e danificar o código de barras em fichas que registram candidatos da oposição. “Se eu perdi nesse local de votação, por que eu me importaria que a ficha chegue ao tribunal eleitoral?”

O secretário do Partido Nacional, Juan Diego Zelaya, afirmou que desconhece qualquer treinament­o do partido sobre métodos de fraude. “Nossas sessões de treinament­o correspond­em ao estipulado pela lei eleitoral.”

A reportagem foi publicada em meio à incerteza sobre os resultados do pleito. Tanto Hernández quanto o rival de esquerda, Salvador Nasralla, reivindica­ram a vitória, mas a apuração do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) não passava de 57% das urnas.

Na última atualizaçã­o, às 16h11 locais (20h11 em Brasília), Nasralla estava à frente (45,18%), seguido por Hernández (40,21%). O TSE informou que faltavam chegar à capital, Tegucigalp­a, as urnas com 2 milhões de votos do interior.

Consultori­as afirmavam que elas favorecerã­o o presidente, mas se dividiam sobre o resultado: algumas apontavam vitória de Hernández, outras prognostic­avam resultado apertado.

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Orlando Sierra/AFP Salvador Nasralla (centro) comemora votação após primeiros resultados em Tegucigalp­a

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