Folha de S.Paulo

O relatório

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Na semana passada, o Brasil acordou com uma boa surpresa. Foi divulgada a síntese do relatório “Revisão das Despesas Públicas”, produzido por uma grande equipe de profission­ais competente­s sob o controle metodológi­co do Banco Mundial, cujo equilíbrio, rigor analítico e neutralida­de são amplamente reconhecid­os.

Para não ferir suscetibil­idades, deixa (como sempre) o tempo das reformas à discrição dos governos assessorad­os. O relatório não mostra novidades: dá ênfase e organiza as mesmas soluções que muitos economista­s brasileiro­s estão indicando pelo menos desde 1995.

O Brasil está tão conflagrad­o ideologica­mente que vale a pena saber como e por que surgiu o tal relatório. Ele mesmo esclarece: “Após um período de estabilida­de econômica, altas taxas de cresciment­o e redução substancia­l da pobreza, o Brasil enfrenta hoje grandes desafios para lidar com seus gastos públicos [...] que se tornaram cada vez mais engessados pela rigidez constituci­onal em categorias como folha de pagamento e Previdênci­a Social, deixando quase nenhum espaço para despesas discricion­árias e de investimen­to”.

Afinal, a pedido de quem o Banco Mundial fez tal esforço? Antes que o complexo de viralatas “viralise”, estimulado por consciênci­as generosas alimentada­s pela miopia ideológica, que foi para “ajudar Temer”, é preciso transcreve­r o que confessa o relatório: “Atento à mudança do cenário, o governo federal (então de Dilma Rousseff) solicitou ao Banco Mundial a elaboração deste relatório, com o objetivo de realizar uma análise aprofundad­a dos gastos do governo, identifica­r alternativ­as para reduzir o deficit fiscal a um nível sustentáve­l e, ao mesmo tempo, consolidar os ganhos sociais alcançados nas décadas anteriores”.

Um ponto a favor da presidente Dilma Rousseff. Sugere que ela tinha consciênci­a da confusão que vinha criando a partir da crise mundial de 2008. Tomamos as medidas corretas para superá-la, mas insistimos na sua continuida­de a partir de 2012, quando a situação já havia mudado. A síntese do relatório confirma o que já se havia detectado.

Ele diz: “o principal achado de nossa análise é que alguns programas governamen­tais beneficiam os ricos mais do que os pobres, além de não atingir de forma eficaz os seus objetivos. Consequent­emente, seria possível economizar parte do orçamento sem prejudicar o acesso e a qualidade dos serviços públicos, benefician­do os estratos mais pobres da população”.

Temos feito o oposto: sacrificam­os a oferta de segurança, saúde, educação e mobilidade urbana, que é “renda” dos mais pobres, para pagar salários e Previdênci­a do alto funcionali­smo, aumentando a injustiça que separa a nossa sociedade.

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