Folha de S.Paulo

Euforia no Rio

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A explosão de alegria no calçadão de Ipanema, com o movimento matinal de carros da imprensa e da Polícia Federal diante de certos edifícios da avenida Vieira Souto, é equivalent­e a um grito de gol. É mais um corrupto que está saindo com as mãos para trás e sendo levado pelos agentes para um banco traseiro, no qual zarpará para Benfica. Onde será recebido pelos vizinhos da penitenciá­ria com iguais exclamaçõe­s de júbilo e votos para que mofe ali para sempre —de preferênci­a, depois de devolver pelo menos parte do dinheiro que roubou.

Por mais que as pessoas de fora se compadeçam do Rio e lamentem a nossa situação —derrocada econômica, política, social e institucio­nal—, temos motivos para estar eufóricos. Há dois anos, essa derrocada já era iminente (nós é que não sabíamos) e seus responsáve­is estavam à solta e no poder. Hoje, quase todos estão enjaulados, e o carioca se orgulha de o Rio estar dando exemplo em matéria de desinfecçã­o do aparelho putrefato.

A população está vibrando com a cadeia para Sérgio Cabral (cada nova condenação é pretexto para um churrasco) e para seus ex-secretário­s de governo, líderes na Assembleia, conselheir­os do TCE e cúmplices no empresaria­do —enfim, da máquina que permitia à quadrilha assaltar sem levantar suspeita. A empolgação aumentou com o recolhimen­to às grades também do casal Garotinho, este abrilhanta­do pelos esperneios do ex-governador, sempre tão plásticos e hilariante­s.

O rombo provocado no Rio pelas políticas e ilegalidad­es que nos apunhalara­m custará para reverter, mas só a evacuação de cena desses malandros já provoca enorme euforia no povo. Se duvida, ande pelas nossas ruas.

Ruas estas que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, mesmo que um dia sejam soltos por um juiz de suas relações, nunca mais poderão pisar. ANTONIO DELFIM NETTO ideias.consult@uol.com.br

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