Me lembro de ter sido uma conversa normal. Não houve pressão indevida.
Um dos responsáveis pelo caso JBS, o procurador da República Anselmo Lopes, 36, diz que a população não deve esperar que as investigações do MPF (Ministério Público Federal) ou da Polícia Federal salvem o Brasil da corrupção.
Questionado sobre a situação atual, com vários governantes investigados após três anos de Lava Jato, ele afirma que a sociedade evolui de forma “não linear” e que, não raro, retrocessos vêm antes de avanços.
O procurador é responsável pelas investigações na Caixa envolvendo o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Também cuida da operação Greenfield, sobre rombos bilionários em fundos de pensão. evoluem?
A evolução não é linear. [Eu] Não tinha expectativa de que uma empresa como a Caixa, da noite para o dia, se tornasse totalmente imune a irregularidades. Seria utopia. Existe um movimento no conselho de administração [da Caixa] para aumentar o profissionalismo na escolha de vice-presidentes. O sr. vê o aparelhamento político como fonte de corrupção?
Todo o descasamento com o profissionalismo acaba sendo uma causa de ineficiência das estatais. O aparelhamento acaba sendo uma janela para a utilização patrimonialista e irregular da companhia. Não se vê indignação por aí [com escândalos de corrupção]. O que houve?
Estudiosos apontaram um efeito ricochete da intensificação do combate à corrupção. Quando atos começam a vir à opinião pública de forma a desmascarar [os crimes], as pessoas acabam se dessensibilizando, o que é perigoso. O caso da JBS expôs o MPF com a polêmica do ex-procurador Marcello Miller [suspeito de ter atuado na defesa da JBS antes de se desligar do cargo público]. A versão que existe é que o sr. pediu para que ele se retirasse da mesa de negociação da leniência.
Antes de se chegar nos valores [do acordo de leniência], a gente fez isso. Não por entender que houvesse alguma ilicitude, mas simplesmente alegando risco moral. No sentido de que não seria eticamente adequado que alguém que havia saído há pouco tempo do MPF tratasse conosco um caso de leniência tão relevante. O episódio riscou a imagem doMPFedocasoJBS?
Acredito que não houve prejuízo para a leniência. Mas repito, o MPF tem de estar aberto a críticas, não pode pensar que é imune. E a PGR, manchou a imagem?
Acho que houve uma tentativa de parte da máquina política e parte da imprensa, e de atores econômicos, para manchar essa colaboração.