Folha de S.Paulo

Francisco pede respeito a etnias em Mianmar

Papa evita termo rohingya, minoria islâmica que fugiu após ação do Exército local

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O papa Francisco disse nesta terça (28) em Mianmar que o país passa por um conflito “que já durou muito e que deixou divisões profundas”, mas se negou a usar o termo rohingya. O pontífice discursou ao lado de Aung San Suu Kyi, líder civil do país, na capital Naypyitaw.

A ONU e os EUA acusam o Exército birmanês de fazer uma “limpeza étnica” contra a minoria muçulmana. Mianmar, que tem uma população majoritari­amente budista, não reconhece os rohingya nem como cidadãos e nem como uma etnia própria —por isso, não usa o termo.

Alguns auxiliares haviam aconselhad­o o pontífice a não usar a palavra rohingya na visita ao país. O tratamento dado à minoria é o principal assunto da viagem de Francisco para a região.

Havia o temor de ataques contra a minoria cristã de Mianmar caso o papa mencionass­e nominalmen­te os rohingyas, o que ele não fez em seu discurso. “O difícil processo de reconstruç­ão e de reconcilia­ção nacional só pode avançar com um comprometi­mento com a Justiça e o respeito aos direitos humanos” disse ele. “Diferenças religiosas não podem ser uma fonte de divisões e desconfian­ças, mas sim uma força de unidade, perdão, tolerância e união nacional.”

Pelo menos 620 mil rohingyas fugiram de Mianmar para Bangladesh desde o início da ação militar em agosto, após membros da minoria atacarem postos policiais.

Antes da fala do papa, Suu Kyi discursou e disse que houve uma perda da confiança nas comunidade­s do Estado de Rakhine, região onde vivem os rohingyas. Ela também não citou a minoria nominalmen­te e nem mencionou a fuga de milhares deles para Bangladesh.

“Enquanto resolvemos antigas questões sociais, econômicas e políticas que erodiram a confiança, o entendimen­to, a harmonia e a cooperação entre diferentes comunidade­s em Rakhine, nós apoiamos nossa população, e o apoio dos bons amigos tem sido inestimáve­l.”

Após deixar Mianmar, o pontífice ainda vai visitar Bangladesh antes de voltar para o Vaticano.

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Ye Aung Tu/AFP Papa é recebido pela líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi

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